Alimentação em Família
Sentar à mesa com a família pode promover hábitos saudáveis de alimentação para crianças e adolescentes.
O número de britânicos que não têm mesa de jantar chega a 25%; apenas 31% a utilizam em ocasiões especiais como o Natal e Ano Novo. De acordo com o diretor da empresa, David Bird, atualmente, as mesas onde as famílias se reúnem todos os dias para comer quase não existem; inúmeros britânicos não fazem uma pausa para comer e, quando o fazem, geralmente é para comer com o prato no colo, vendo televisão. A tendência é o desaparecimento desse móvel, que durante longo tempo esteve no centro da vida doméstica. Os divórcios e a falta de tempo e de espaço são algumas das razões para a queda na procura por mesas de jantar, aponta a pesquisa.
Tomei como exemplo essa notícia para chamar atenção das pessoas de como a vida moderna tem modificado hábitos que deveriam ser preservados em nome da saúde e do bem-estar das pessoas. A mesa de jantar foi por muito tempo um exemplo de união da família. Era comum em todas as refeições diárias pais, filhos e até avós estarem juntos se alimentando, trocando idéias e narrando fatos acontecidos durante o dia. Lá em casa, por exemplo, às vezes meu pai chegava tarde, às oito da noite, mas minha mãe sempre nos fazia esperar para comermos em família, não importava o quanto nos queixássemos. Era um ritual tão agradável que ninguém queria perder.
Os anos se passaram e a correria do dia-a-dia, a falta de tempo, entre outros fatores fizeram com que uma atividade importantíssima para a saúde física e emocional de todos os membros da família praticamente deixasse de existir. De acordo com algumas pesquisas, no Brasil, 30% a 40% das famílias não jantam juntas de cinco a sete noites por semana. A hora do almoço em casa, junto com os familiares, tem sido trocada por um sanduíche na lanchonete da esquina ou por uma refeição em frente à TV ou computador.
As vantagens das refeições em família
Os estudos atuais mostram que as rotinas e os rituais familiares podem trazer vários benefícios para as pessoas. Esses rituais não envolvem apenas as refeições diárias, mas também atos simbólicos e que às vezes duram gerações na mesma família, como as celebrações de Natal, Ano Novo, aniversários e o tradicional almoço de domingo. Essas atividades têm sido relacionadas a uma maior satisfação conjugal, maior senso de identidade pessoal por adolescentes, maior saúde de crianças, satisfação com o desempenho acadêmico e fortalecimentos das relações familiares.
Um dos motivos que ajudam a explicar esses benefícios é que essas rotinas e rituais ampliam o tempo de convivência entre os familiares, possibilitando maior conhecimento mútuo e troca de experiências, formação ampliada de sua identidade pessoal e maior sensação de retaguarda social, o que daria a todos mais segurança em seus relacionamentos extra-familiares.
De acordo com um estudo publicado no Journal of Family Psychology (2003), se uma família faz em conjunto três refeições por semana, por exemplo, terá passado algo como uma hora (cerca de 20 minutos por refeição) se comunicando pessoalmente sem a interferência de “ruídos” como programas de televisão, por exemplo. Todos os que se sentam à mesa nestes momentos se beneficiam dessa interação de uma maneira ou de outra.
Benefícios para os mais jovens
Uma pesquisa publicada em 2003 no Journal American Dietetic Association, mostrou que sentar-se à mesa para as refeições com a família parece desempenhar um papel importante na promoção de hábitos alimentares saudáveis entre os adolescentes. Os pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, descobriram que as crianças entre os 11 e 18 anos de idade que tomavam as suas refeições em família, comiam maiores quantidades de frutas, vegetais, leguminosas e alimentos ricos em nutrientes do que aqueles que comiam separados das suas famílias. Além disso, os adolescentes que consumiam pelo menos sete refeições por semana em família consumiam menos comidas rápidas e snacks do que aqueles que comiam menos do que este número.
Os autores do estudo também descobriram que os meninos faziam mais refeições em família que as meninas, tal como as crianças até o 2º ciclo, comiam mais em família que as que freqüentavam graus de ensino subsequentes. Adicionalmente, a pesquisa revelou que as famílias em que as mães não tinham emprego externo e as famílias com maior poder aquisitivo tomavam refeições em conjunto com maior frequência que as outras famílias.
Em 2004, a revista Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine publicou um estudo com 4.746 crianças de 11 a 18 anos de idade mostrando que as refeições em família freqüentemente são associadas a um menor risco do desenvolvimento do hábito de fumar, beber e usar maconha, entre os jovens. O estudo indicou também uma menor incidência de sintomas de depressão e pensamentos suicidas, além de notas mais altas na escola.
Para os especialistas, as refeições familiares são importantes também para ajudar a aprimorar o vocabulário de crianças mais jovens. Pesquisadores de Harvard consideraram em 1996 os tipos de atividades que promoviam o desenvolvimento da linguagem. Jantares familiares foram mais importantes do que brincar, do que a hora da história e outros eventos familiares. E aquelas famílias que entraram em diálogos extensos na mesa de jantar, como a narração de histórias e explanações, ao invés de comentários de uma frase, como “coma seus legumes”, fizeram com que crianças adquirissem mais competências lingüísticas.
Exemplos à mesa
Muito do que é dito ou feito numa família serve de exemplo e efetivamente causa impacto sobre os membros desta. Crianças que se alimentam sem os pais ficam sem referência, sem exemplos concretos de uma boa alimentação e, inevitavelmente, vão para a frente da televisão enquanto comem, vivenciando um sentimento de solidão e uma tendência à obesidade. A criança que come assistindo TV não sabe o que come nem tem noção da quantidade ingerida.
Por isso, a presença dos pais na hora do almoço e/ou jantar é fundamental para transmitir aos filhos bons exemplos, que serão seguidos por toda vida. Se uma criança sempre vê seus pais servirem-se de salada antes do prato principal, ela entenderá que essa atitude é a mais correta e provavelmente também vai querer experimentar e seguir o exemplo. Da mesma forma, se a criança observa seu pai servindo-se de macarrão pela terceira vez, ela poderá aprender que comer três porções do alimento não é demais, e também seguirá o exemplo.
É importante enfatizar que freqüentemente os pais demonstram seus valores aos filhos pelo que fazem, muito mais do que pelo que dizem. As crianças estão atentas às ações deles, mesmo quando estão fazendo uma outra atividade ou conversando com outra pessoa. Os pais são os modelos de referência, e por isso, é fundamental que tomem alguns cuidados para não enviar mensagens erradas ou contraditórias do tipo comer com a boca aberta, comer rápido demais sem mastigar corretamente os alimentos, exagerar nas quantidades, fazer comentários desfavoráveis em relação a um alimento, como por exemplo, a mãe falar que não gosta de beterraba, etc.
Para finalizar, saliento que a hora da refeição deve ser um momento sem estresse. O ambiente deve ser tranqüilo e acolhedor, sem brigas, discussões, comentários impróprios, que causam desconforto e sentimentos que ficam associados ao alimento e à hora de comer, interferindo em situações futuras, principalmente entre as crianças. Se o seu filho (a) não quer comer da forma como você gostaria, não entre em crise, não perca a paciência e não discuta, apenas informe que o prato dele(a) estará disponível quando a fome surgir.
Incentive a criança a ter prazer com o que come; aos poucos ela vai aceitando as novidades, aumentando o seu repertório de alimentos, desenvolvendo cada vez mais uma relação saudável com a comida. E não se esqueça de resgatar a mesa em seu lar, seja ela de jantar ou uma simples mesinha de cozinha. A sua família reunida em torno dela mais vezes por semana, com certeza será mais feliz e saudável
Sérgio Leitão
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