quarta-feira, 13 de julho de 2016

A Ética no Casamento

Desde o tempo do Iluminismo, a ética religiosamente baseada teve uma má reputação entre muitos intelectuais do ocidente. Sigmund Freud poderia ser tomado como um porta-voz de muitos estudiosos e educadores na forma como ele via a ética judaico-cristã como irracional, produtora de culpa, e falsamente restritiva da liberdade natural. Juntamente com muitos outros, Freud queria uma abordagem mais racional” da ética. E se essa rejeição da ética religiosamente baseada tivesse tido um ponto central de conflito, poderia facilmente ser em rejeitar a ética judaico-cristã com respeito ao casamento e sexo, uma rejeição que veio à proeminência cultural com a “revolução sexual” de uma geração passada. É provavelmente menos comum que intelectuais seculares tenham explicitamente rejeitado padrões morais judaico-cristãos a respeito de assassinato, roubo ou mentira.


Mas agora essa rejeição da ética religiosamente baseada está sendo questionada a partir de uma direção que pode ser surpreendente para alguns: a pesquisa empírica nas ciências sociais. Vários estudos empíricos recentes em psicologia e sociologia têm mostrado que as pessoas geralmente experimentam um nível bem mais alto de bem-estar e felicidade se permanecem casados por toda a vida e mantêm relações sexuais dentro do casamento. Não há mais nenhuma razão para ver as regras tradicionais religiosas contra o divórcio e o sexo fora do casamento como imposições irracionais de um Deus arbitrário ou inexistente.

I. A Visão Tradicional

Antes de olharmos para o trabalho dos cientistas sociais, seria bom revisar com maior precisão o que era realmente alegado por pensadores da moral judaico-cristã. A alegação não era somente que regras morais procedem de Deus. Era também que regras morais apropriadas tendem a contribuir para o bem do homem, pois estas regras estão arraigadas em ou correspondem à natureza e relacionamentos humanos. Isso era verdade, quer alguém estivesse falando sobre a ética do sexo, de dizer a verdade, de proteger a vida e a propriedade, ou qualquer outra coisa. Pelo menos desde o tempo de Kant, a filosofia tem geralmente separado as questões de dever (éticas deontológicas) das questões que contribuem para o bem humano (éticas teleológicas ou utilitárias). E esta tendência filosófica é freqüentemente vista em discussões populares que separam os deveres religiosos da felicidade humana.

Mas na tradição bíblica não há uma separação entre consideração de deveres e consideração do que contribui para o bem-estar humano. Na própria Bíblia parece não haver tensões entre dizer que alguém deve seguir certa regra moral porque ela procede de Deus, e dizer que alguém deve seguir essa regra moral porque a mesma contribui para o bem humano. Por um lado, após ter recebido os Dez Mandamentos de Deus e dado ao povo, Moisés pôde usar a linguagem de dever para com Deus para explicar a importância de guardar as regras. “Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” (Êxodo 20:20). Por outro lado, Moisés pôde usar também a linguagem moral que soa teológica, que conecta regras morais com o bem humano, quando explicou o porquê as pessoas deveriam seguir as regras morais. “Andareis em todo o caminho que vos manda o SENHOR vosso Deus, para que vivais e bem vos suceda, e prolongueis os dias na terra que haveis de possuir” (Deuteronômio 5:33). A separação moderna entre dever moral e considerações do bem humano está simplesmente ausente na perspectiva bíblica. Os dois estão perfeitamente unidos porque Deus é visto como a fonte de ambos.

Um pensador cristão que compreendeu isso especialmente bem foi o teólogo de Princeton Charles Hodge. Ele viu uma unidade completa das regras morais ordenadas por Deus e os princípios que servem para o bem humano, pois “há uma revelação imperfeita da lei [de Deus] na própria constituição da nossa natureza.” E muitas das leis de Deus mencionadas na Bíblia “são encontradas nas relações permanentes dos homens no presente estado de existência deles.” Muitas leis bíblicas “estão fundamentadas sobre a natureza das coisas; isto é, sobre a constituição a qual pareceu bem Deus ordenar.” Com isso em mente podemos retornar para as ciências sociais.

Um cientista social que é altamente estimado pela sua habilidade de sintetizar os resultados de experimentos em ciência social por centenas de pesquisadores ao redor do mundo é David G. Myers. Seus livros-texto sobre introdução à psicologia e psicologia social são muito amplamente usados por universidades em países de língua inglesa. Em seus diversos livros ele parece ter grande prazer em usar os resultados de pesquisas empíricas para destruir os mitos que todos supostamente “conhecem”. Uma pessoa deveria ler Myers somente se estiver disposto a ter o seu pensamento desafiado pela ciência real. Neste estudo usaremos a compilação que Myers fez dos resultados de pesquisas nas ciências sociais.

II. Coabitação

Apesar de parecer muito comum as pessoas dizerem que um casal deve coabitar (viver junto sem casar) para ver se eles são compatíveis, na prática real, a co-habitação geralmente não traz bons resultados. De fato, há diversos resultados ruins que tendem a vir.

Diversos estudos amplos, tanto na Europa como na América do Norte, descobriram que casais que coabitam têm um índice de divórcio bem maior do que aquele encontrado entre os que não viveram juntos antes do casamento. Nos estudos diferentes em vários países, o crescimento do número de divórcios entre aqueles que coabitavam é de 35% a 80% mais alto. Ao invés de aumentar a felicidade e a estabilidade matrimonial ajudando a pessoa a encontrar o parceiro ideal, a coabitação promove fortemente o divórcio (p. 29).

Em adição, coabitações tendem a ser bem mais violentas do que casamentos. Vários estudos mostram que as mulheres são espancadas pelos seus parceiros com maior freqüência do que esposas pelos seus maridos. Estudos mostram que há de 80% a 400% mais violência em  relacionamentos de coabitação do que em relacionamentos matrimoniais. Um estudo descobriu que mulheres que têm relacionamentos de coabitação têm oito vezes mais chance de serem assassinadas pelos seus parceiros do que esposas pelos seus maridos (pp. 31, 32). Contrastes adicionais são que parceiros que coabitam geralmente relatam um nível mais baixo de satisfação sexual do que casados. E elas são geralmente menos felizes e mais propensas a ter depressão do que pessoas casadas. Embora esteja bem estabelecido pela ciência que um casamento feliz é o melhor indicador de que uma pessoa será feliz com a vida como um todo, aqueles que vivem juntos são apenas um pouco mais felizes do que os solteiros (pp. 41, 42).

III. Divórcio e Mães Solteiras

Provavelmente estamos todos cientes do alto índice de divórcios na maior parte da Europa e América do Norte. Com algumas diferenças regionais e nacionais, parece que aproximadamente metade dos nossos casamentos termina em divórcios. Ao mesmo tempo, inúmeras mulheres estão sendo mães sem nunca terem casado com o homem que é o pai dos seus filhos, fazendo surgiu a nova expressão: “pais que batem e correm”. Isso tem impelido os cientistas sociais a investigarem o divórcio e a maternidade solteira. O retrato não é bonito.

Os estudos confirmam o que muitos suspeitavam. O divórcio faz com que as pessoas se sintam solitárias, depressivas e rejeitadas, freqüentemente por muitos anos. O que não é bem conhecido é que o divórcio prejudica também a saúde física, quase tanto quanto fumar uma carteira de cigarros por dia. O aumento do índice de mortes mostra que pessoas divorciadas tendem a viver alguns anos menos do que seus vizinhos ainda casados (p. 43). Divórcios também tendem fortemente a levar pessoas à pobreza, especialmente se há crianças envolvidas. Dois lares custam mais que um. Por causa da redução da felicidade, a motivação por trabalho e ganhos financeiros pode diminuir. E relativamente poucos homens, na verdade, pagam boa pensão alimentícia ou suporte para os filhos. A ausência dos pais biológicos parece ser um fato predominante na pobreza entre as crianças, pelo menos nos Estados Unidos, mas provavelmente em outros países também (p. 75).

Muitos dos efeitos do divórcio e maternidade independente são sentidos pelas crianças envolvidas. Simplificando: a ausência dos pais cria vários problemas para as crianças, não importa se a ausência é causada por divórcio ou por falta de casamento. Filhos de pais solteiros têm um índice muito maior de abuso ou negligência por parte de um dos pais (p. 63). Crianças que vivem com sua mãe biológica e padrasto, ou namorado da mãe, também correm riscos especiais: altos índices de abuso, índices muito mais altos de assassinato, e um tabu mais fraco de incesto com os resultados previsíveis.

Alguns cientistas sociais falam de um “número mágico” de 70% (setenta), pois 70% daqueles com as principais doenças sociais cresceram num lar sem pais: 70% dos presidiários, 70% dos adolescentes assassinos, 70% dos adolescentes que fogem de casa, e 70% dos delinqüentes. Alguns cientistas começaram a falar de uma “invasão de bárbaros” como uma forma de se referir a garotos que crescem sem o pai e, portanto, sem a expectativa de assumir uma posição de marido e provedor de um lar (p. 76, 77). Crianças de famílias de pais solteiros e famílias com padrasto ou madrasta são duas a três vezes mais propensas a necessitar de ajuda psicológica. E são muito mais propensos a se envolverem em sexo sem proteção, fumar cigarros, e fazer uso de álcool e drogas. Enquanto apenas aproximadamente 12% das crianças que vivem com os dois pais biológicos têm problemas sérios na escola, isso salta para 22% se a criança vive com uma mãe divorciada, e para 30% se a mãe nunca casou (p. 83).

IV. Conclusões Científicas

Sobre as bases da sua exaustiva revisão da pesquisa da ciência social, Myers afirma o que ele chama de “ideal transcultural: crianças prosperam melhor quando criadas por dois pais que são permanentemente comprometidos um com o outro e com o bem-estar dos seus filhos” (p. 87). E ele aponta que 70% dos divórcios vêm no fim de casamentos com baixo nível de conflitos, casamentos nos quais o nível de conflito não causa danos sérios às crianças (p. 89, 90). Alguém poderia adicionar que em tais casamentos de conflitos pequenos, o divórcio não parece ser de forma alguma sábio, dado os desgastes humanos, e tais casamentos poderiam prontamente ser reconciliados se existir o desejo de assim fazê-lo.

Algum movimento em direção a esse “ideal transcultural” é possível. Passos práticos e úteis podem ser tomados. “Comprometimento  matrimonial, mostram estudos, é sustentado não somente por atração, mas também por uma convicção moral da importância do casamento e por temor dos custos sociais e financeiros de uma quebra de relacionamento” (p. 47). Essa convicção moral e temor dos custos da quebra  matrimonial podem ser elevados nos jovens por uma nova geração de livros-texto para escolas e universidades, livros que possam identificar esses fatos científicos mais claramente que aqueles do passado, enquanto também sendo orientados para o bem humano. Atitudes e ações podem ser significantemente mudadas por leis e regulamentos a respeito de casamento e divórcio, e talvez até mesmo por regras financeiras e de impostos. Aulas bem definidas de preparação para casamento podem ser extremamente eficazes em dar aos casais a idéia, motivação, e habilidades práticas necessárias para fazer com que um casamento realmente dê certo. As ciências sociais nos dizem que casamentos que duram até o fim da vida (e a rejeição de sexo fora do casamento) é um fator muito grande na felicidade de indivíduos e para o bem da sociedade como um todo. A ciência pode também nos dizer que existem algumas coisas que podemos fazer para chegarmos mais perto desse ideal.

V. Conclusões Filosóficas

Sobre a base da ciência real, alguém pode afirmar agora a regra moral judaico-cristã, “não adulterarás”, como era tradicionalmente interpretada: você não pode acabar um casamento ou noivado com sexo fora do casamento. Mesmo um ateu pode afirmar que essa regra tem sido cientificamente mostrada como sendo crucial para o bem-estar humano. A rejeição dessa regra é agora não somente anti-religiosa, mas também anticientífica. Historicamente, os cristãos têm afirmado que essa regra foi encravada por Deus tanto na natureza e relacionamentos humanos, como também proclamada por Ele na consciência e nos Dez Mandamentos. A ciência pode não ser capaz de provar que essa regra vem de Deus, mas hoje o salto da ciência para a fé é bem menor do que pensávamos no passado.

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