terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

UM MISTÉRIO AINDA MAIOR: Aquele que ama, entende, e quem entende, ama.

Partilhar profundamente é abundante, mas raro. Estamos sempre alerta por causa de milhares de medos que temos. Primeiro, é o medo de quebrar as defesas, de chorar. Depois, também temos medo de que os outros não perceberão a tremenda importância significada por aquela memória ou sentimento. Quão doloroso é quando um momento tão importante, no qual decidimos partilhar algo significativo, é recebido por ouvidos desinteressados, por ouvidos preocupados com outras coisas, ou por zombaria, ouvidos que não percebem o significado do que estamos dizendo.
Isso pode acontecer entre marido e esposa. O cônjuge que teve coragem de falar, mas que não foi entendido pelo outro, cai numa terrível solidão emocional. Ele pode ficar doente por causa disso. Alguns vão procurar o pastor ou o sacerdote, outros vão procurar o médico. Eles estão simplesmente procurando alguém que os entenda. Em certos casos de terapia, a ajuda de um médico ou conselheiro espiritual pode ser necessária. Contudo, frequentemente, uma esposa pode obter a mesma ajuda de seu marido, e vice versa, se o mesmo cuidado em aliviar a dor fosse exercitado pelo ouvir do cônjuge.

É impossível enfatizar demais a imensa necessidade que as pessoas têm de serem ouvidas, de serem levadas a sério, ou de serem compreendidas. A igreja sempre soube disso; a psicologia moderna demonstrou atenção a isso também. Na base de toda a psicoterapia está esse tipo de relacionamento no qual a pessoa pode se sentir livre para falar tudo, como uma criança faz com sua mãe.

Ninguém consegue se desenvolver livremente nesse mundo, e encontrar uma vida de satisfação, sem se sentir compreendida por pelo menos uma pessoa. Pela incompreensão, uma pessoa perde a auto-confiança; ele perde sua fé na vida e até mesmo em Deus.

Aqui está um mistério ainda maior: ninguém consegue se conhecer apenas pela introspecção, ou na solidão do seu diário pessoal. Ao invés disso, é no diálogo, é encontrando outros para expressar suas convicções, que uma pessoa se torna consciente deles. Aquele que deseja ver claramente deve estar aberto para uma pessoa que tenha sido escolhida confiantemente, e também se demonstrar digna dessa confiança. Ela pode ser um médico, um amigo, o cônjuge.

É por isso que Deus diz: “Não é bom que o homem esteja só”. Isso é, não é bom que o ser humano fique sozinho. Uma pessoa precisa de companheirismo – ele precisa de um parceiro, de um encontro significativco com outras pessoas.

Sozinha, uma pessoa marca os horários como deseja, e faz as coisas do seu jeito. Mas, nos confrontos do casamento, ele deve ir além dele mesmo, e desenvolver maturidade para saber lidar com essas situações.

No entanto, quando um casamento é reduzido a apenas duas pessoas que estão se protegendo uma da outra, mesmo que possa parecer que está em paz em alguns momentos, ele perdeu o rumo completamente. Falhar em entender o cônjuge é falhar em se entender a si mesmo.

Os psicólogos falam de três fases do casamento. A primeira é chamada de “fase da lua-de-mel”. O casal sente que ambos se entendem bem. Uma mulher pode dizer: “Meu noivo e eu temos os mesmos gostos em tudo; concordamos um com o outro, e somos capazes de conversar sobre tudo”.

Então, vem a segunda fase, normalmente encontrada entre o quinto e o décimo ano de casamento. Nessa fase, ambos percebem que não são tão parecidos quanto pensavam. Ele descobre falhas que antes passaram imperceptíveis. Ou ela descobre que as falhas que ela pensou que iriam desaparecer rapidamente, continuaram – um traço de temperamento, egoísmo, mentira, rudeza, violência, vulgaridade, bebedeira – e que desapontamento. A reposta a princípio vem gentilmente, através de um aviso, então vem como repreensão, súplica, e por fim, ameaça. Aí, aparece a tão bem conhecida expressão: “Eu não consigo entender ele…” Isso leva à tentação de abdicar, de se recolher a si mesmo, para diminuir o risco de conflito.

A terceira fase se desenvolve de duas maneiras. A primeira é uma desistência gradual da busca pela felicidade. Essa fase é caracterizada pelo ressentimento, amargura ou rebelião.

Nesse momento, o casal pode começar a pensar em divórcio. Ou, eles podem viver em constantes disputas que raramente são resolvidas. Então, novamente, eles podem entrar em algum tipo de acordo para capitular da luta – um dos cônjuges se rende ao abrir mão da sua própria personalidade. Ou, talvez, cada um se isola do outro, organizando sua vida, e se tornando mais e mais segregado.

A segunda possibilidade desta terceira fase é a da coragem. Através da corajosa aceitação da realidade, um cônjuge é aceito como é, sem o halo de santidade que o rodeava no começo. Uma tentativa genuína é feita para entender essa pessoa tão longe de ser atrativa.

Realmente, ele tem falhas; ele tem problemas que não resolveu. Ele não entende a si mesmo, e ele reage de forma grosseira quando seus defeitos são apontados. Por quê? Porque ele se sente incapaz de superar suas falhas.

Mas, ele pode ser ajudado de uma maneira diferente – através do amor demonstrado a ele não tanto por suas qualidades, como por seus defeitos. Ele pode ser ajudado ao sua esposa o entender: entender o que ele perdeu durante sua infância; a entender o que ele ainda sente falta; e entender como ela pode cuidar dessa necessidade da melhor maneira possível.

Paul Tournier

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