sábado, 2 de maio de 2015

Plenitude do Espírito e Vida Familiar

 “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. (Efésios 5.18-21).  Não há provavelmente uma área tão importante na nossa vida e na vida da igreja cristã quanto a família. Cremos que não há muita dúvida a respeito desta afirmação. Todos nós concordamos que famílias sadias e equilibradas formam o esteio de igrejas e sociedades equilibradas. É em famílias assim que indivíduos podem crescer de forma sadia. Crendo nisto e reconhecendo igualmente que a família, de forma geral, está passando por momentos difíceis, indagaremos nesse capítulo acerca da dinâmica - ou do segredo, se assim o leitor preferir - de famílias bem sucedidas. Efésios 5.18-6.4 é o texto clássico do Novo Testamento sobre o assunto. Nele o apóstolo Paulo traça princípios gerais para a família, as condições que regem o relacionamento entre pais e filhos, marido e mulher e o princípio dinâmico que deve controlar essas relações. É no ensino dessa passagem que basearemos o presente capítulo. Porém, antes de nos determos para investigá-lo mais de perto, é importante relembrar alguns princípios gerais sobre a família cristã ensinado nas Escrituras. Primeiro, ser um cristão verdadeiro não é uma garantia de que o casamento e a vida familiar darão certo automaticamente. Infelizmente algumas igrejas, comprometidas com os ensinos da teologia da prosperidade, fazem promessas quanto ao casamento que vão além daquilo que Deus nos promete em Sua Palavra. Elas parecem sugerir que se fizermos determinados votos ou cumprirmos rituais por elas estipulados, os problemas do relacionamento com nosso cônjuge e filhos terminarão. Mas, se o segredo de casamentos e famílias felizes fosse simplesmente determinados rituais levados a cabo durante cultos de libertação, qual teria sido a necessidade de Deus colocar nas Escrituras orientações, instruções, conselhos e determinações aos maridos, mulheres e pais cristãos acerca de como nos comportar em família? Ungir o retrato da minha mulher não substitui o meu dever de exercer o papel de marido conforme o ensino das Escrituras. É necessário educar meus filhos nos caminhos do Senhor, diariamente, se desejo realmente vê-los crescer como cristãos verdadeiros. Nenhuma corrente de oração vai substituir isto. Este primeiro princípio procura livrar-nos de uma ideia romântica de que o simples fato de irmos à igreja vai garantir-nos um casamento e família felizes. Segundo, ser cristão comprometido com os padrões bíblicos pode trazer dificuldades ainda maiores ao casamento. Aquele que teme a Deus e ama a Sua Palavra, descobrirá que as orientações de Deus quanto ao casamento e à família frequentemente não são fáceis de serem obedecidas. Os maridos devem amar as suas mulheres como a si mesmos, e as esposas devem ser submissas a seus maridos. Para as pessoas que não são cristãs, que não temem a Deus e nem respeitam a Sua Palavra, isto é um problema; elas simplesmente não seguem essa orientação. Para elas o divórcio é sempre uma solução da qual poderão lançar mão se as coisas piorarem (e às vezes antes mesmo de chegar a esse ponto). Entretanto, para os cristãos, os quais sabem que Deus odeia o divórcio (Malaquias 2.16), todos os esforços legítimos devem ser empreendidos para a manutenção dos laços matrimoniais, quando os mesmos estão ameaçados pelos problemas que costumam rondar a estabilidade da família. Enquanto que o divórcio aparentemente é o caminho mais fácil e rápido para resolver um relacionamento conturbado, os cristãos enveredam pelo caminho mais longo e mais difícil do aprendizado, do quebrantamento, da renúncia e da reconciliação. Terceiro, casamento e criação de filhos não são assuntos à parte de nossa fé. São assuntos sobre os quais a Bíblia se pronuncia. Portanto, devemos reger o nosso casamento e a criação de nossos filhos pelos princípios nela contidos. Temos a tendência de compartimentalizar certas áreas de nossas vidas e isolá-las de nossa santa religião. Quão frequentemente orientamos nossos casamentos e famílias segundo a nossa razão humana, segundo as práticas da sociedade moderna, nossa própria sabedoria carnal, como as pessoas que não conhecem a Deus! Portanto, as regras práticas para o casamento e a família, como as que encontramos em Efésios 5.18 - 6.4, não devem ser dissociadas da doutrina cristã em geral. Ou seja, não devemos cair no velho engano de tentar separar prática cristã de teologia e vice-versa. Especialmente aqui nessa passagem podemos ver como essa divisão era estranha ao pensamento dos autores do Novo Testamento. Paulo aborda a questão do casamento sob a perspectiva da doutrina de Cristo e da Igreja, e enraíza o ensino sobre a criação de filhos no Antigo Testamento. Estamos enfatizando este ponto porque cremos que só uma compreensão adequada da relação entre Cristo e a Sua Igreja nos ajudará a ter um casamento feliz. Felizes são os casais que compreendem bem esta analogia e que pautam o seu relacionamento nela. Quarto, o conceito bíblico de casamento é único e diferente de todos os demais. Muitas pessoas pensam que o casamento é apenas a legalização da atração física, ou então simplesmente uma conveniência humana, fruto da necessidade social. Entendemos porém, pela Escritura, que o casamento é uma instituição divina, algo criado e ordenado por Deus para a raça humana. Sabemos muito bem que esse tipo de concepção de casamento tem cada vez menos adeptos. O casamento, como instituição, tem sofrido alterações radicais, especialmente no Ocidente, devido a diversas mudanças sociais: o crescimento do número de jovens que praticam o sexo antes do casamento como resultado do afrouxamento dos padrões morais da sociedade moderna; o aumento da idade média em que as pessoas se casam; mais e mais mulheres casadas seguindo uma carreira profissional e deixando o lar e os filhos em segundo plano; a liberalização das leis concernentes ao divórcio; a legalização do aborto; a melhoria e maior acessibilidade aos meios de controle da natalidade; as mudanças nos papéis tradicionais do homem e da mulher. Esses fatores, entre outros, têm moldado a mentalidade ocidental moderna quanto ao casamento, o qual tende cada vez mais a ser encarado como uma mera conveniência social, nem sempre desejável. Entretanto, a Igreja de Cristo, muito embora atenta às mudanças, guia-se por padrões e valores mais estáveis - na verdade, imutáveis - quanto a casamento e família. Esses padrões e valores estão revelados nas Escrituras Sagradas. A família no contexto do Espírito No presente capítulo veremos um importante princípio das Escrituras sobre o casamento e a família. Esse princípio é desenvolvido pelo apóstolo Paulo em nosso texto e por si só necessita de um estudo especial: o relacionamento familiar deve ocorrer no contexto de vidas cheias do Espírito Santo. Nessa passagem - que em nossas Bíblias começa com um subtítulo em negrito, geralmente “O Lar Cristão” (Ef 5.22-6.9) - Paulo instruí os maridos e as mulheres, pais e filhos, quanto aos seus deveres mútuos, passando-lhes instruções que devem controlar esses relacionamentos. Paulo faz isso tendo em mente que estes princípios deveriam se concretizar em meio a um ambiente profundamente espiritual. Essa é a dinâmica de famílias cristãs sólidas e felizes. Existem diversas evidências que nos levam a dizer isso. A primeira é que essa passagem, onde Paulo fala dos deveres dos pais e dos filhos, está precedida e controlada pelo imperativo do verso 18, “Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”. Após essa ordem, vêm as exortações e orientações práticas acerca do casamento e da família. A conexão entre essas duas partes tem escapado aos nossos leitores brasileiros da Bíblia, pois a maioria de nossas versões em português traz após o verso 21 um subtítulo em negrito “O Lar Cristão” ou coisa semelhante. Muito embora o objetivo do subtítulo é ajudar o leitor a ter uma ideia do assunto que se segue, nesse caso, acaba por prestar um desserviço, pois trunca a linha de pensamento do apóstolo e interrompe a continuidade do assunto. O leitor fica com a impressão de que Paulo acabou de falar sobre o Espírito Santo no verso 21 e que no 22, começa a falar de outro assunto completamente diferente, que é a família cristã. Na realidade, Paulo não está começando um novo assunto no verso 22, mas simplesmente expandindo o que havia dito nos versos 18 a 21. Essa conexão fica mais fácil de perceber no texto grego. Literalmente, os versos 21 e 22 estão assim: “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo, as mulheres aos seus próprios maridos”. Vamos colocar esse ponto de uma outra maneira, para facilitar a compreensão. No verso 18, Paulo exorta os crentes: “enchei-vos do Espírito Santo”. Perguntemos ao apóstolo quais são os passos necessários para obedecermos a essa ordem. A resposta vem nos versos seguintes. Ele diz, “falando entre vós com salmos e hinos e cânticos espirituais” (v.19), “dando sempre graças por tudo ao nosso Deus e Pai” (v.20), “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (v.21) Essa última determinação significa que os cristãos devem acatar outros cristãos que se encontram em posição de autoridade. Nos versos seguintes, o apóstolo trata destes casos em particular, desenvolvendo o “sujeitando-vos” na área do casamento (5.22-33), da família (6.1-4) e da sociedade (6.5-9). Tudo o que Paulo ensina nesses versículo está diretamente ligado à ordem para que nos enchamos do Espírito. O vínculo é o conceito de sujeição: as esposas sujeitam-se aos maridos; os filhos se sujeitam aos seus pais; os servos, aos seus senhores (existe um aspecto em que o homem e os pais também cumprem sujeição mútua que Paulo menciona no v.21, que será discutido mais adiante neste livro). Portanto, o ensino de Paulo sobre o casamento e a família (e também sobre nossos relacionamentos no trabalho) é a continuação explicativa do mandamento "sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo," que por sua vez é uma explicação do mandamento principal, "enchei-vos do Espírito".  

Augustus Nicodemus Lopes

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