As Três Dimensões do Relacionamento Familiar
É incrível que tantos casais se preparem tanto para a cerimônia de casamento, mas não se preocupam em se preparem para a vida a dois, a partir da lua de mel. Gostaria de dizer que em virtude disso muitos casamentos terminam antes mesmo de alcançarem o primeiro ano de vida. É impressionante o quão pouco sabemos da vida depois de casados. Em geral, fantasiamos e romanceamos muito sobre isso.
Por essa razão, e com essa preocupação, gostaria de escrever alguns textos sobre as características da vida de casado, que espero que sejam úteis para casais que estão apenas começando, para casais que pensam em se casar em algum momento próximo (ou mesmo distante), e até para casais que já estão casados há tanto tempo, mas que sempre necessitam de entender mais algumas coisas.
O tema desse artigo é as três dimensões que sempre estão presentes no relacionamento familiar. São características que, se analisadas conjuntamente, podem proporcionar uma visão de como estão estabelecidas as relações entre os membros da família. E, se você perceber, ao ler o artigo, que sua família pode estar enfrentando dificuldades nisso, convido você a aproveitar as decisões de novo ano, e estabelecer novas metas, para que sua vida seja mais feliz com sua esposa, filhos, e família em geral.
O Modelo Circumplexo de Relação Familiar
Esse é o nome de uma teoria de estudo das relações familiares que nos ajuda a entender a dinâmica das relações entre os integrantes da família. Essa teoria diz que todos os membros da família e seus comportamentos influenciam de alguma forma uns aos outros. Ou seja, estão interligados. Tudo o que acontece com o pai, com a mãe, ou mesmo com os filhos, interfere de alguma forma na maneira pela qual todos da família se sentem, se comportam, ou pensam.
Essa análise da dinâmica familiar é feita analisando-se três dimensões: coesão, flexibilidade e comunicação. Esses três aspectos podem ser analisados e revelam como se estabelecem as relações. Vamos analisar cada um deles separadamente.
Coesão. Por coesão, entendemos a proximidade, o quão emocionalmente unidos se encontram os membros da família. Não estamos falando apenas de estarem perto fisicamente, partilhando a mesma casa, ou o mesmo quarto. Estamos falando sobre o quanto que determinada pessoa da família se sente parte da vida da outra. Ou seja, estamos falando sobre o quão afetivamente envolvidos se encontram as pessoas dentro de uma família. Se o pai está enfrentando um problema no trabalho, como os outros membros se comportam? Eles param para conversar com o pai, ou para animá-lo, ou simplesmente se preocupam em continuar vivendo a vida, não dando a menor importância ao problema?
Além disso, falar de coesão é falar também de comprometimento. Lembro-me certa vez de uma situação ocorrida em minha família, na qual meu irmão menor, que à época tinha apenas seis anos, estava sendo perseguido por um colega, que ficava derrubando ele na terra, ao final da escola. Quando ele me contou isso, eu tinha por volta de quatorze anos, chamei um colega de classe e fomos tirar satisfação, pedindo para o garoto não repetir mais aquela cena. Não foi a melhor forma, concordo, mas me senti no dever de proteger meu irmão, pois ele era da minha família. Eu estava comprometido com ele, com minha família.
A coesão aparece também no aspecto de como e quanto tempo juntos se passa em família. Essa característica não é algo que se define por palavras, e se exige. É algo que se forma por meio do passar experiências juntos, por criar memórias agradáveis que marquem os momentos familiares. Até hoje me lembro com muito carinho das festas natalinas que tínhamos em família. Era um momento de sentarmos juntos, rirmos, contarmos histórias, e brincar com os presentes de natal. Hoje, ao nos reunirmos, ainda contamos histórias, mas nos lembrando dos tempos passados. O impressionante é que sempre que nos reunimos, contamos as mesmas histórias, mas elas nunca perdem a capacidade de nos fazer rir. Não rimos apenas das histórias, mas também da alegria de partilharmos aquilo em família. Isso é coesão.
Flexibilidade. Essa é a segunda característica do modelo circumplexo. Essa qualidade, de flexibilidade, pode ser definida como a capacidade de mudar. A vida não é a mesma sempre. Ela não é vivida numa constante, sem alterações repentinas. Bem ao contrário, a vida apresenta muitos momentos de altos e baixos, muitas dificuldades e facilidades, muitas coisas inesperadas, que acontecem de uma hora para outra. Por isso, a qualidade de flexibilidade é tão importante para uma família. Estamos falando da capacidade de adaptação de cada pessoa. Mudanças, alterações de horário, de rotas, de planos, tudo isso pode acontecer. O ponto não é como evitar isso, mas como nos comportamos quando essas coisas acontecem.
Muitas pessoas têm extrema dificuldade de viver com coisas inesperadas. Cresceram na mesma casa, na mesma rua, no mesmo bairro, na mesma cidade, têm os mesmos amigos. Não gostam de mudar. Alguns até conseguem, mas isso está ficando cada vez mais difícil.
Primeiro, que quando os filhos crescem, muitas mudanças ocorrem na casa. Ou então, se um dos cônjuges perde o emprego. Ou se alguém engorda demais, ou emagrece. Se um dos filhos perde o ano na escola, ou uma filha engravida fora de hora. Esses são apenas alguns exemplos de coisas que podem acontecer, e que necessitam de muita capacidade de adaptação para lidarmos com isso. Precisamos desenvolver maneiras de não perder a calma, não ficar cegos de raiva, ou mesmo não nos desesperarmos diante das dificuldades. Precisamos cuidar muito da maneira pela qual nos comportamos em momentos de estresse. Agora, isso será muito mais fácil de se fazer, se tivermos desenvolvido uma boa coesão familiar. Assim, não importa o que aconteça, sabemos que as coisas em família serão sempre as mesmas entre os membros.
Comunicação. E uma terceira característica, e que é bem importante por sinal, é a capacidade de se comunicar adequadamente. Comunicar não se refere simplesmente ao que falamos, mas também ao quando, onde e como fazemos isso. Precisamos usar as palavras sabiamente, escolhendo o melhor jeito de falarmos as “verdades”. Muitos acham que não faz diferença. Se estão falando a verdade, é isso o que interessa. Contudo, palavras certas, ditas na hora errada, se transformam em consequências completamente erradas. Por isso, é extremamente necessário que você use sua capacidade de se comunicar para elogiar e apreciar os membros de sua família. Com isso você estará desenvolvendo a coesão entre os membros da família, e todos ficarão juntos se tiverem que ter flexibilidade diante das dificuldades que a vida lhes apresentar.
Uma característica muito importante para desenvolver a boa comunicação é comunicar-se. Vocês precisam tomar tempo para conversar entre si, para comentarem sobre a vida de cada um, sobre como se sentem, sobre os planos que têm, sobre os medos, etc. Precisam aprender a falar sobre si mesmos, sem medo de serem rejeitados. Isso é desenvolver bem a família.
Agora que você já tem ideia de como funciona o relacionamento familiar, lembre-se de desenvolver essas três áreas para que sua vida em seu lar possa ser melhor. Lembre-se de passar tempo, falando as coisas certas, e conversando interessadamente com as pessoas de sua família, e com isso, desenvolvendo maneiras de ser flexível diante de novas situações. E tenho certeza de que sua família será muito mais feliz.
Que Deus abençoe muito você e sua família,
Osmar Reis Junior
Psicólogo
0 comentários:
Postar um comentário