segunda-feira, 9 de julho de 2012

A Crise do Homem da Meia Idade

“Há uma crescente opinião entre sociólogos, psicólogos e psiquiatras, e outros profissionais, que todos os homens irão atravessar em algum grau… é uma crise natural do desenvolvimento, e, ao mesmo tempo, inevitável”. Assim escreve o pastor e psicólogo Jim Conway em seu livro Men In Midlife Crises (Publicadora David C. Cook), por mim adquirido em Amsterdam, Holanda, quando participava do “1º Congresso Internacional para Evangelistas Intinerantes” (julho 1983), patrocinado pela Associação Evangelistica Billy Graham. O livro, que teve ampla difusão (mas pouco levado a sério), foi recomendado por alguns dos ícones do evangelicalismo norte-americano da época, como J. Dobson, V. Grounds, J. A. Peterson e K. N. Taylor. CRISE INEVITÁVEL Para o autor, “A crise da meia idade é quase que publicamente ignorada na igreja, embora muito dos seus membros irão passar pelo problema”. A Igreja precisa reconhecer que essa crise é um problema significativo no desenvolvimento de todos os homens adultos que a irão enfrentar. Temos obreiros para crianças ou idosos, mas muitos homens de meia idade deixam a igreja temporariamente por falta de compreensão e de ministérios especializados. Por que essa crise não foi estudada antes? Simplesmente porque havia poucos homens de “meia idade”. Assim, a sociedade ainda não a absorveu, como fez com a adolescência. Antes as poucas pessoas de meia idade viviam, em sua maioria, em comunidades rurais tradicionais, ou em sociedades autoritárias, que, por séculos, reprimiram as expressões da evolução emocional dos seres humanos. Hoje elas afloram pela opção da liberdade, chocam, causam apreensão, perplexidade, incompreensão. Em que idade a crise aparece? Os autores divergem: para Kenn Rogers, entre os 30 e os 39 anos; para Carl Jung, entre os 35 e os 50 anos, e para Joel e Lois Davitz, entre os 40 e os 50 anos. Pesquisa, nos Estados Unidos, constatam que entre os 34 e os 42 anos 80% dos executivos passam pela crise. Não se trata de uma “menopausa masculina”, mas, para Conway, as sensações são parecidas: depressão, ansiedade, irritabilidade, isolamento, fadiga, auto-piedade, e, sobretudo, infelicidade quanto à vida. Há uma variedade de fatores causais: mudanças no corpo (envelhecimento), consciência maior das limitações e da morte, das falhas do passado e do temor do futuro, a confrontação das fantasias do jovem adulto com a realidade, uma queda na auto-imagem. Chega-se ao ponto em que tudo o que se sonhou ou planejou como projeto de vida ou já foi realizado ou, muito provavelmente, nunca será realizado. Voltam fortes, nesse período, as questões existenciais básicas: Quem sou? O que faço? Qual será o meu destino? Há uma sensação de que o melhor da vida está no passado. Há um vazio e um sentido de urgência ( o que dá para fazer, de diferente, ainda?), agravados pelo estresse da vida urbana competitiva, em uma sociedade móvel (geográfica e culturalmente), em um mundo que cultiva o mito da juventude. Há pressões e demandas de todos os lados, os filhos na adolescência e os pais na velhice. O corpo e a mente se esgotam. Descobre-se que muito dos “amigos” eram apenas interesseiros ou, até, verdadeiros inimigos. CRISE NECESSÁRIA Instala-se a crise existencial e de identidade. Vive-se o que alguns autores denominam de “segunda adolescência”. A família, a igreja, a empresa, a sociedade não o compreendem (nem aceitam). Não percebem a naturalidade, a inevitabilidade e a necessidade (transição para a próxima etapa da vida), e emitem apenas apressados, superficiais e descaridosas julgamentos morais (“Velho Sujo”) ou espirituais ( “desviou-se” , “caiu em pecado”). Para o autor, nessa hora o homem “necessita de amigos que estão dispostos a sofrer com ele, e não de um acusador”, e que a igreja deve desenvolver compreensão e aceitação. Na crise, os homens se cansam com a família e o trabalho. Buscam mudanças ( “enquanto dá tempo”), de bairro, de cidade, de Estado, de País, de atividade profissional, de igrejas, de amigos e desenvolvem novos gostos em termos de arte, esportes e lazer. Passam por dificuldades em relação à Deus e aos valores (especialmente os formados em concepções mais rígidos e represssores), redimencionam seus casamentos ou optam por nova experiência conjugal. Durante a crise, percebe-se, com profundidade, a mensagem do Salmo 102. A própria pessoa deve aceitar a realidade da crise, que, quando atravessada adequadamente, conduz ao amadurecimento. Prepara-se, Assim, para um envelhecer útil e com classe. Aprofunda-se um novo relacionamento com Deus. Para aquele autor: “Seguindo-se a crise da meia idade, um homem se move para o terceiro período, começando no término dos 40 e indo até a sua aposentadoria. O homem que navega com sucesso a crise da meia idade irá experimentar uma crescente produtividade, um declínio na competitividade, um maior desejo de aprender dos outros a habilidade para o lazer e a habilidade para estar só”. A crise - embora com traços comuns – é diferente de personalidade para personalidade, dependendo da história de vida, da conjuntura, da cultura, da classe social, da teologia e do sistema de valores adotados e da reação das pessoas e instituições que o cercam. Deve-se, em todos os casos, respeitar a solidão e a peregrinação sofrida dos que passam pela crise, apoiando-o em suas decisões e saídas. A redescoberta da Graça de Deus, da humanidade de Jesus e da nossa própria humanidade, a superação do dogmatismo e do legalismo, a redescoberta da natureza e da vida, concorreriam para uma igreja mais sadia e terapêutica e para cristãos (especialmente líderes) menos hipócritas, mas felizes, mais felizes e mais maduros.

Robinson Cavalcanti

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