sexta-feira, 9 de março de 2012

Quem ama cuida, ou controla?

“E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado.”
(Caio Fernando Abreu)
Os ciumentos de plantão sempre estão embasados pelo seguinte argumento: “Quem ama, cuida“. Dizer isso, em outras palavras, seria algo mais ou menos como “Eu sou dele e ele é meu. Nós nos pertencemos e temos, assim, o direito e dever de cuidar um do outro, melhor dizendo, cuidar da vida um do outro.” Cruzes!
Sei que pareço um tanto quanto anti-romântico ao me negar cuidar de alguém e ser cuidado na sequência da saga (a la Crepúsculo), mas lutei e luto tanto para ter liberdade e independência, que não seria justo comigo, só por estar apaixonada por A, B ou C, mandar tudo às cucuias para correr atrás de alguém 24 horas do meu dia. Desculpe, mas não vai dar. Tenho coisas muito melhores com que ocupar meu tempo.
Da mesma forma, espero uma atitude parecida também. Não quero alguém que se preocupe exageradamente com o que eu faço ou deixo de fazer na minha vida. Incentivo, apoio, atenção e interesse bem dosados são sinônimos de cumplicidade, que por sua vez, é algo positivo e muitíssimo diferente do sentimento de posse em relação ao outro e ao que só diz respeito ao outro. Individualidade!
Agora alguém dizer que quer “cuidar do outro” porque ama e para isso ter a ousadia de querer controlar os passos nos 4 cantos da cidade, fazendo ou outro se  sentir como BBB ao tentar transformar o celular numa espécie de tornozeleira com GPS de vigilância, ao contrário da reação esperada ( morrer de amores), é o suficiente para incluir isso como mais um de meus casos clínicos registrados.
Isso para mim não é estar apaixonado, amar. Isso tem outro nome. Chama-se carência, possessividade, insegurança, ciumeira boba e nada tem a ver com amor. Aliás, acredito que o mal do nosso século não seja a solidão, como muitos pensam, mas justamente a carência emocional que se alastra de forma viral.
Na verdade, o ser humano anda carente, carente até os ossos, diga-se de passagem. Nós todos, homens e mulheres, lutamos tanto para conquistar direitos, liberdades, maiores possibilidades nessa vida, mas é incrível como em matéria de amor ainda conseguimos, num piscar de olhos, mandar tudo às favas para agir como seres primitivos, assombrosamente abobalhados, tudo em nome da dita cuja paixão.
Ah, mas você diz isso porque nunca se apaixonou de verdade ou porque não é romântico! (ouço muito isso). A verdade é que quando cuidamos muito da vida do outro, esquecemos ou não nos sobra tempo para cuidar da nossa própria. Nos entregamos de corpo, mente, alma e coração a alguém que mal conhecemos e jogamos sobre seus ombros a responsabilidade de nos fazer felizes e acabar com toda a nossa carência (sexual, sentimental, existencial).
Pobre criatura! Depositamos todas as nossas esperanças nas mãos de alguém que é apenas humano e frágil como nós e não um super-herói. Alguém que se cansa, se estressa, tem dor de cabeça e de dente, mau-humor e frustrações na vida, como qualquer reles mortal.
É preciso aprender a lidar e conviver muito bem com nossas próprias carências e inseguranças para não enlouquecer a nós mesmos e ao outro. É preciso ser e querer ser inteiro, completo, cheio de si e muito seguro de quem se é e do que se quer para não andar por aí como quem procura a outra metade da laranja, como se nos faltasse um braço. Precisamos nos amar mais, nos amar direito e ser para nós mesmos o que realmente importa, o mais importante.
Amar requer fé, confiança, inteireza, para viver feliz e de bem com a vida, com a certeza de que se soma, se acrescenta algo de bom à vida do outro e ele, à nossa. É preciso abdicar da romântica ilusão da incompletude sempre em moda e vigente nas relações.
Para andar de mãos dadas não necessitamos de algemas, pois amar é (ou deveria ser) sinônimo de liberdade, felicidade, crescimento. Como ensina Marcelo Cezar, O AMOR É PARA OS FORTES e, enquanto fortes, podemos nos desobrigar sem receios de certos excessos decuidados, principalmente os alheios. Amar é cuidar de si mesmo, sempre e em primeiro lugar.

Lar, Doce Lar

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