Convivência conjugal
O bom relacionamento conjugal é um dos temas que tem sido freqüentemente abordado em pesquisas, artigos e palestras nos dias atuais. As razões para tal interesse têm sido várias. É incontável o número de casais separados e lares desfeitos, aumentando assim o número de menoresabandonados, de crianças com distúrbios de comportamento e aprendizagem, por causas emocionais e distorções na educação infantil.
Por que os casais se separam?
Parece que o mundo de hoje não está preparando os jovens para assumirem as responsabilidades conjugais. Pesquisas têm demonstrado que a tendência dos filhos de pais separados é de também se separarem quando algo não dá certo no seu casamento. Esses filhos se espelham no exemplo dos pais de também não suportarem os reveses que costumam acontecer em qualquer relacionamento conjugal. Há falta de uma conscientização por parte dos jovens para assumirem tal responsabilidade, além do suporte econômico e emocional para posterior ajustamento mútuo.
De modo geral, os pais desejam que seus filhos escolham bem o par conjugal para que sejam felizes no casamento. Infelizmente, muitos pais são desajustados e não ser vem de exemplo para os filhos, já que sua convivência “desarmoniosa” no lar os torna incapazes de dar orientação segura aos filhos no sentido de mudarem suas atitudes. Creio que assim como existem cursos para formação de profissionais competentes, nas várias atividades da vida, também deveria existir um curso em que os jovens pudessem desenvolver uma formação específica e aprender um pouco sobre maturidade emocional, autocontrole, equilíbrio e ajustamento pessoal. Isso ajudaria os jovens no autoconhecimento e na melhor escolha do(a) companheiro(a).
O tema é empolgante e extenso e não é num pequeno artigo que discutiremos todos os aspectos que deveriam ser abordados para um bom relacionamento conjugal, mas focalizaremos alguns pontos que poderão despertar nos leitores o desejo de melhorar seu matrimônio:
Conhecimento e aceitação das diferenças individuais
Este é o primeiro aspecto a ser observado, em qualquer tipo de relacionamento. Cada pessoa é um ser único, diferente de qualquer outro. Não existem duas personalidades iguais e até os gêmeos univitelinos carregam em si algumas diferenças.
A beleza do mundo está exatamente nas diferenças. Se assim não fosse, a monotonia seria muito grande, mas o problema é que geralmente não há aceitação dessas diferenças por parte dos indivíduos, principalmente no par conjugal. Ao escolher o(a) companheiro (a) é imprescindível conscientizar-se de que o “outro” vem de uma família com formação, hábitos e educação diferentes da sua família e que é preciso reconhecer, aceitar e respeitar essas diferenças como você gostaria de ser reconhecida, aceita e respeitada. É bom lembrar que a aceitação e o respeito às diferenças individuais não é exclusiva do casal, mas estende-se aos familiares também. É fácil fazer isso no tempo do namoro e do noivado, mas as coisas mudam após o enlace matrimonial.
Autoconhecimento
O segundo aspecto, que de certo modo está ligado ao primeiro, é a necessidade que o casal tem de um autoconhecimento. É necessário que cada um se conheça profundamente. Será que você se conhece? Já parou para pensar sobre suas virtudes e defeitos? A tendência do ser humano é ver mais facilmente os defeitos do outro do que as qualidades e ressaltar mais as próprias virtudes do que os defeitos. Em Lucas 6.41 lemos: “Por quê vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho?”.
A personalidade humana tende a ver apenas o exterior, o que está diante dos olhos, o comportamento, os atos das pessoas próximas e a julgar” o que os olhos vêem com a subjetividade própria de cada um, esquecendo como é difícil reconhecer os próprios erros. Sócrates, o grande filósofo grego, usou como lema de sua escola a frase “conhece-te a ti mesmo”, procurando levar seus discípulos a pensarem e a produzirem ideias e conceitos através da introspecção, isto é, através de uma busca do autoconhecimento voltado para dentro de si mesmo, para pensar sobre sua maneira de agir e reagir, seus pensamentos, emoções, e sentimentos. Geralmente pensamos mais sobre os outros do que sobre nós mesmos.
Se todas as pessoas desenvolvessem a arte do autoconhecimento, haveria maior possibilidade de conhecer o outro e de aceitá-lo como ele é e não como você gostaria que ele fosse. A autocompreensão levaria o casal a um melhor ajustamento.
Comunicação
O terceiro aspecto a ser lembrado refere-se à comunicação, ao diálogo, entre os cônjuges. As relações entre os grupos e entre os indivíduos são mantidas através de comunicações verbais, gestos e símbolos. É através da linguagem que o casal comunica seus desejos e esperanças. O pensamento é um processo interno que pode existir sem ser exteriorizado, mas para que o seu par conjugal saiba o que você pensa é necessário que seu pensamento seja explicitado através da linguagem. Pela palavra você transmite suas experiências, idéias, sentimentos e emoções, mas para haver comunicação é preciso atenção e correspondência. Como um pode saber o que o outro está sentindo se não usarem o poder da linguagem?
O diálogo é a chave-mestra da compreensão e do ajustamento. A palavra é um dom de Deus. Por que não usá-la para o ajustamento na família? Os sentimentos e as emoções precisam ser expressos para que os problemas sejam resolvidos. O compartilhamento através do diálogo é a solução para os problemas diários que surgem na vida conjugal. Como o marido saberá dos problemas que a esposa enfrenta se ela não falar? Como a esposa poderá ajudar o marido na solução dos problemas se não tomar conhecimento deles? Os pais acostumados ao diálogo facilitam aos filhos a expressão de seus sentimentos, o que os ajudará grandemente na solução de conflitos.
Um outro aspecto importante na comunicação é a capacidade de ouvir. Em Provérbios 18.13 lemos: “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha”. Existem pessoas que só falam, mas não param para ouvir. Diálogo é troca - os dois falam. É preciso treinar a comunicação para que ela produza frutos.
Li, há algum tempo, que Platão usou “uma escada para ilustrar o crescimento matrimonial: as duas laterais da escada representam o homem e a mulher e cada degrau simboliza aquilo que os atrai e os mantém unidos num companheirismo inseparável. Diz ele que o primeiro degrau é a atração física, e o mais alto é o puro amor a Deus. Cada degrau da escada depende dos outros degraus, fazendo com que todos se tornem importantes a fim de manter a unidade da escada de um matrimônio completo.” Cada casal sabe que degraus podem ser colocados na sua escada conjugal: carinho, cortesia, sociabilidade em casa, paciência, autocontrole, respeito, fidelidade, honestidade, franqueza, controle de finanças, comunicação, amizades comuns. Esposo e esposa deverão fazer sua parte.
Eis algumas soluções práticas:
a) fazer um levantamento das características positivas ‘e negativas do seu cônjuge, procurando ajudar um ao outro no aperfeiçoamento das virtudes e eliminando os pontos negativos;
b) manter um diálogo franco para “ajustar os ponteiros”;
c) cada cônjuge deverá ceder um pouco com sabedoria e equilíbrio;
d) usar sempre “nós” em vez de “eu”, evitando o egoísmo;
e) procurar moderar a voz, evitando discussões em voz alta, especialmente se as crianças ou estranhos estiverem presentes;
f) pedir a Deus que os ilumine para encontrarem caminhos para o ajustamento, lembrando sempre que não há mal sem remédio e que tudo é possível ao que crê. Filipenses 4.13 é um texto que merece ser repetido, a propósito: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece.”
Ilma Vieira Slva
Psicoóloga
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