terça-feira, 28 de dezembro de 2010

VOCÊ É ESPECIAL

 

 


OS XULINGOS eram uma gente pequena, feita de madeira. Toda essa gente de madeira tinha sido feita por um carpinteiro chamado Eli. A oficina onde ele trabalhava ficava no alto de um morro, de onde se avistava a aldeia dos xulingos.
Cada xulingo era diferente dos outros. Uns, tinham narizes bem grandes; outros, tinham olhos enormes. Alguns, eram altos, e outros, bem baixinhos. Uns, usavam chapéus, outros, usavam casacos. Todos eles, porém, tinham sido feitos pelo mesmo carpinteiro e moravam na mesma aldeia.
E o dia inteiro, todos os dias, os xulingos só faziam uma coisa: colavam adesivos uns nos outros. Cada xulingo tinha uma caixinha com adesivos dourados, em forma de estrela, e uma caixinha com adesivos cinzentos, em forma de bola. Em toda a aldeia, indo e vindo pelas ruas, os xulingos passavam dia após dia colando estrelas e bolas uns nos outros.
Os mais bonitos, feitos de madeira lisa e tinta brilhante, sempre ganhavam estrelas. Mas, se a madeira era áspera ou se a tinta descascava, os xulingos colavam bolas cinzentas.
Os xulingos que tinham algum talento também ganhavam estrelas. Alguns, conseguiam levantar pedaços de madeira bem pesados acima de suas cabeças ou conseguiam pular por cima de caixas de madeira bem grandes. Outros, conseguiam falar palavras compridas e difíceis ou cantar belas canções. Todos colavam estrelas nesses xulingos.
Alguns xulingos viviam carregados de estrelas! Cada vez que recebiam uma estrela, ficavam muito felizes! Sentiam vontade de fazer alguma outra coisa para ganhar mais uma estrela.
Alguns xulingos, porém, não sabiam fazer muita coisa. Esses ganhavam bolinhas cinzentas.
Marcinelo era um desses. Ele tentava pular bem alto como os outros, mas sempre caía. E, quando caía, os outros xulingos se juntavam à volta dele e lhe davam bolinhas cinzentas.
Às vezes, quando caía, sua madeira ficava arranhada, e, assim, os outros colavam mais bolinhas cinzentas nele.
Aí, quando ele tentava explicar por que tinha caído, dizia alguma coisa do jeito errado, e os xulingos colavam mais bolinhas cinzentas nele.
Depois de algum tempo, Marcinelo tinha tantas bolinhas que nem queria sair de casa. Tinha medo de fazer alguma bobagem, como esquecer o chapéu ou pisar numa poça d’água, porque os xulingos iriam colar nele mais uma bolinha. A verdade é que tinha tantos adesivos cinzentos que as pessoas se aproximavam dele e, sem razão alguma, colavam nele mais uma bolinha cinzenta.
-Ele merece ficar coberto de bolinhas cinzentas – as pessoas de madeira diziam umas às outras.
-Ele não é um bom xulingo.
Depois de algum tempo, Marcinelo começou a acreditar neles. E vivia dizendo:
-Eu não sou um bom xulingo.
Nas poucas vezes em que saía de casa, ficava junto de outros xulingos que tinham muitas bolinhas cinzentas. Entre eles, Marcinelo se sentia melhor.
Certo dia, Marcinelo encontrou uma xulinga diferente de todas que ele conhecia. Ela não tinha nem estrelas nem bolinhas. Só madeira.
O nome dela era Lúcia.
E não era porque outros xulingos não tentassem colar adesivos em Lúcia. É que os adesivos não ficavam. Alguns xulingos admiravam Lúcia porque não tinha bolinhas; por isso, chegavam perto dela e lhe davam uma estrela. Mas a estrela caía! Outros a desprezavam porque ela não tinha estrelas, e por isso lhe davam uma bolinha cinzenta. Mas as bolinhas também não colavam.
É assim que eu quero ser, pensou Marcinelo. Não quero ficar com marcas de outras pessoas.
Então, ele perguntou à xulinga que não tinha adesivos como é que ela conseguia ficar assim.
-É fácil – respondeu Lúcia.
-Todo dia, vou visitar Eli.
-Eli?
-Sim, Eli, o carpinteiro. Fico lá na oficina com ele.
-Por quê?
-Por que você não descobre por si mesmo? Suba o morro. Ele está lá em cima. E, dizendo isso, a xulinga que não tinha adesivos virou e foi embora, saltitando.
-Mas será que ele vai querer me ver? – gritou Marcinelo.
Lúcia não ouviu. Assim, Marcinelo foi para casa. Sentou-se junto à janela e observou toda aquela gente de madeira andando de um lado para outro, colando estrelas e bolinhas uns nos outros.
-Isso não é certo – disse ele baixinho para si mesmo.
E decidiu ir ver Eli.
Marcinelo subiu pelo caminho estreito até o alto do morro e entrou na enorme oficina. Seus olhos de madeira se arregalaram com o tamanho das coisas. O banco do carpinteiro era da altura dele. Tinha de ficar na ponta dos pés para ver a bancada onde trabalhava o carpinteiro. O martelo era tão grande quanto o braço de Marcinelo, e ele engoliu em seco.
-Eu não fico aqui não! – e virou-se para ir embora.
Foi então que ouviu alguém dizer seu nome.
-Marcinelo? – A voz era profunda e forte.
Marcinelo parou.
-Marcinelo! Que alegria ver você. Chegue mais! Quero ver você bem de perto.
Marcinelo virou bem devagar e olhou para o enorme carpinteiro barbudo.
-Você sabe o meu nome? – perguntou o pequeno xulingo.
-É claro que sei. Fui eu que fiz você.
Eli se curvou, levantou Marcinelo e o colocou sentado no banco.
-Huummm! – disse pensativo o carpinteiro, olhando para todas aquelas bolinhas cinzentas. – Parece que você recebeu muitos adesivos ruins.
-Eu não queria que isso acontecesse, Eli. Eu me esforcei para ganhar estrelas.
-Você não precisa se defender comigo, amiguinho. Eu não me importo com o que os outros xulingos pensam.
-Não?
-Não, e você também não precisa se importar. Quem são eles para dar estrelas ou bolinhas? São apenas xulingos como você. O que eles pensam, não importa, Marcinelo. A única coisa que importa é o que eu penso. E eu penso que você é muito especial.
Marcinelo deu uma risada.
-Eu, especial? Por quê? Não sei correr. Não consigo pular. Minha tinta está descascando. Por que eu seria importante para você?
Eli olhou para Marcinelo, colocou suas mãos enormes naqueles pequenos ombros de madeira, e disse bem devagarinho:
-Porque você é meu. Por isso, você é importante para mim.
Nunca ninguém havia olhado assim para Marcinelo – muito menos o seu criador. Ele nem sabia o que dizer.
-Todo dia, tenho esperado a sua visita – explicou Eli.
-Eu vim porque encontrei alguém que não tinha marcas – disse Marcinelo.
-Eu sei. Ela me falou sobre você.
-Por que os adesivos não colam nela?
O criador dos xulingos falou bem mansinho:
-Porque ela decidiu que o que eu penso é mais importante do que o que eles pensam. Os adesivos só colam se você deixar que colem.
-O quê?
-Os adesivos só colam se eles forem importantes para você. Quanto mais você confiar no meu amor, menos vai se importar com os adesivos dos xulingos.
-Acho que não estou entendendo.
Eli sorriu e disse:
-Você vai entender, mas levará tempo. Você tem muitos adesivos. Por enquanto, basta vir me visitar todo dia, e eu lhe direi como você é importante para mim.
Eli ergueu Marcinelo do banco e o colocou no chão.
-Lembre-se – disse Eli quando o xulingo saía pela porta – você é especial porque eu o fiz. E eu não cometo erros.
Marcinelo nem parou, mas lá no fundo de seu coração pensou: Acho que ele realmente se importa comigo.
E, quando ele pensou assim, uma bolinha cinzenta caiu ao chão.


Aos olhos de Deus, você é realmente importante.


O mundo diz à criança:
“Você é especial se... Se for inteligente, se for bonita, se for talentosa...”
Deus diz a ela:
“ Você é especial e pronto! Nenhuma qualificação é necessária.”
Na leitura deste livro, essa mensagem vai encontrar espaço no coração da criança.
É por isso que toda criança que você conhece precisa ouvir e saber essa verdade reconfortante:
Alguém o ama como você é.

                                                                                 
                                                                                                               Max Lucado

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