O casamento vai bem, mas o sexo…
Sucesso editorial de publicações sobre o tema indica que, embora não haja estatísticas e seja comprovada apenas nos consultórios médicos, a crise do sexo no casamento aflige muitos casais
Sexo é bom. Mas no casamento, nem sempre. E cada vez menos. O fenômeno não é exatamente uma novidade, mas parece estar mais freqüente: a vida sexual dos casados não anda lá muito bem. “Há realmente uma crise da vida sexual no casamento. E isso é uma conseqüência imediata da vida contemporânea, cheia de trabalho, de preocupações, de estresse. Fora isso, há muito sedentarismo, excesso de fumo e de bebidas alcoólicas. Tudo isso tira do sexo o que ele tem de melhor. Diminui a disposição para ele, a freqüência e a qualidade”, confirma a psiquiatra Carmita Abdo, autora do recém-lançado Descobrimento sexual do Brasil (Summus Editorial), um amplo panorama do que o brasileiro faz na cama e fora dela.
“Não temos dados concretos sobre isso, mas no dia-a-dia verificamos com facilidade que o sexo no casamento anda em crise”, diz ela, com a experiência de quem comanda o primeiro ambulatório especializado no tratamento de questões relacionadas ao sexo no Brasil, o Projeto sexualidade (Prosex) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os exemplos confirmam. “Nós mal nos vemos durante a semana, trabalhamos até tarde e quase nunca temos vontade de transar quando chegamos em casa”, diz uma pernambucana, 32 anos, casada há oito, funcionária de uma empresa de tecnologia no Recife. Ela confirma que o “É melhor virar pro lado e dormir” ganha terreno. “Sexo, só nos sábados. E mesmo assim é uma coisa meio burocrática”, continua.
Realmente, não há dados no Brasil que indiquem o grau de satisfação sexual do brasileiro no casamento, mas alguns números indicam que o sexo no lar não é suficiente. Segundo o Estudo da vida sexual do brasileiro, coordenado pelo Prosex em 2004, 50% dos homens do País são assumidamente infiéis. Entre as mulheres, o patamar das que assumem ter relações extramuros fica em 26%.
Psicanalista e sexóloga, a carioca Regina Navarro Lins acaba de lançar um livro intitulado justamente O sexo no casamento (Bestseller), em parceria com o marido, Flávio Braga. Para ela, a grande fonte para o marasmo da vida sexual em casa está no principal pilar sobre o qual as relações se estruturam no Ocidente: a fidelidade. “O compromisso de exclusividade de um com o outro destrói a relação. Sem o risco de que o parceiro se envolva com outra pessoa, o exercício de sedução constante acaba. Os parceiros ficam dependentes um do outro, mas desinteressantes”, diz ela. “O casamento, no fim das contas, é a situação onde menos se faz sexo no mundo”, diz. “Claro que há exceções, pessoas que estão casadas há 30 anos e conseguem manter o tesão. Mas essa não é a regra”, continua, reforçando que a monogamia leva, quase sempre, à monotonia.
E o problema não estaria simples e puramente no compromisso de exclusividade, mas também na forma como a fidelidade é exercida. “Tudo é junto. Os amigos são os mesmos, as atividades são as mesmas, o lazer é compartilhado, isso satura e acaba transformando a relação numa grande amizade”, diz. “O marido vira o melhor amigo, o melhor pai, o melhor tudo. Mas não dá tesão”, ilustra.
“O grande desafio dos casais é ter companheirismo e não deixar a amizade suplantar a parceria e o interesse sexual”, concorda a psicanalista Carmita Abdo. “Mas não há fórmula pronta para isso. Os casais que não se amalgamam tanto têm mais possibilidade de fazer o interesse sexual durar mais tempo”, diz ela, reforçando a tese de que autonomia é importante para a relação.
Regina diz que a mulher é a primeira a perder o tesão na relação. “O homem fica excitado com mais rapidez. Pode não morrer de tesão por uma mulher, mas transa. Já a mulher precisa de tempo para excitar-se, para ficar lubrificada. A mulher recebe o homem dentro dela. E se ela não estiver devidamente excitada, o sexo vai se tornar uma coisa cada vez mais chata e até incômoda”, discorre.
Anos e anos de monotonia sexual em casa podem levar ao extremo oposto: uma liberação total. Casada desde os 19 anos com planos de ser “feliz para sempre”, a escritora Viviane Ka, 29, percebeu que a vida com o marido não correspondia exatamente ao que esperava do conceito de felicidade. “Estava tudo monótono na minha vida, uma chatice. Eu estava num casamento morno, cismando que existia muito mais a descobrir no campo sexual. Por isso, resolvi fazer minha própria história”, diz ela. Sua experiência resultou no recém-lançado Os 10 mandamentos para a felicidade sexual da mulher (Editora Jaboticaba). Sob o pseudônimo de Aretusa von de Menezes, ela conta, no livro, a trajetória de excessos que acabaram por conduzir ao equilíbrio. O périplo incluiu sexo com desconhecidos, garotos de programa, amigos, amigas e maridos de amigas.
Autor do também recém-lançado Sem drama na kama – Novos caminhos para o prazer (Prestígio Editorial), o psicoterapeuta Moacir Costa diz que crise no casamento é uma constante. “Com a emancipação da mulher, ela passa a ter opiniões próprias, e expõe as questões do sexo. Mas o estresse e as questões da vida contemporânea também contribuem para esta crise. Acaba o diálogo, a convivência. Perde-se a libido e o sexo despenca”, diz ele, sugerindo medidas como menos trabalho, menos álcool e menos peso, além de mais conversa, para recuperar a qualidade de vida sexual. “A mesmice acaba com a relação”, diz.
Especialista no assunto, Moacir lembra que a disfunção erétil deve ser levada em conta. Segundo pesquisas, o problema atinge, em maior ou menor grau, cerca de 11 milhões de brasileiros. “Cerca de 40% das mulheres desses homens ficam com a auto-estima abalada diante da situação, o que afeta em muito a vida sexual. É preciso desmistificar o assunto e proceder ao tratamento adequado”, diz.
Criatividade na cama não é palavra bem-vinda para alguns especialistas. “Há quem diga que o negócio é ser criativo. Dizer isso é até uma maldade. Não adianta querer inventar quando não há tesão. Sem libido, não dá para ser criativo. É ela que gera criatividade nas relações. Definitivamente, não adianta espelho no teto sem tesão”, dispara a sexóloga Regina Lins.
Embora as prateleiras das livrarias estejam abarrotadas de títulos de auto-ajuda para melhorar a vida conjugal, não há equação matemática para aplicar no quarto. Apenas num aspecto todos concordam: há algo de morno, muito morno, na cama.
Bruno Albertim.
Sexo é bom. Mas no casamento, nem sempre. E cada vez menos. O fenômeno não é exatamente uma novidade, mas parece estar mais freqüente: a vida sexual dos casados não anda lá muito bem. “Há realmente uma crise da vida sexual no casamento. E isso é uma conseqüência imediata da vida contemporânea, cheia de trabalho, de preocupações, de estresse. Fora isso, há muito sedentarismo, excesso de fumo e de bebidas alcoólicas. Tudo isso tira do sexo o que ele tem de melhor. Diminui a disposição para ele, a freqüência e a qualidade”, confirma a psiquiatra Carmita Abdo, autora do recém-lançado Descobrimento sexual do Brasil (Summus Editorial), um amplo panorama do que o brasileiro faz na cama e fora dela.
“Não temos dados concretos sobre isso, mas no dia-a-dia verificamos com facilidade que o sexo no casamento anda em crise”, diz ela, com a experiência de quem comanda o primeiro ambulatório especializado no tratamento de questões relacionadas ao sexo no Brasil, o Projeto sexualidade (Prosex) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os exemplos confirmam. “Nós mal nos vemos durante a semana, trabalhamos até tarde e quase nunca temos vontade de transar quando chegamos em casa”, diz uma pernambucana, 32 anos, casada há oito, funcionária de uma empresa de tecnologia no Recife. Ela confirma que o “É melhor virar pro lado e dormir” ganha terreno. “Sexo, só nos sábados. E mesmo assim é uma coisa meio burocrática”, continua.
Realmente, não há dados no Brasil que indiquem o grau de satisfação sexual do brasileiro no casamento, mas alguns números indicam que o sexo no lar não é suficiente. Segundo o Estudo da vida sexual do brasileiro, coordenado pelo Prosex em 2004, 50% dos homens do País são assumidamente infiéis. Entre as mulheres, o patamar das que assumem ter relações extramuros fica em 26%.
Psicanalista e sexóloga, a carioca Regina Navarro Lins acaba de lançar um livro intitulado justamente O sexo no casamento (Bestseller), em parceria com o marido, Flávio Braga. Para ela, a grande fonte para o marasmo da vida sexual em casa está no principal pilar sobre o qual as relações se estruturam no Ocidente: a fidelidade. “O compromisso de exclusividade de um com o outro destrói a relação. Sem o risco de que o parceiro se envolva com outra pessoa, o exercício de sedução constante acaba. Os parceiros ficam dependentes um do outro, mas desinteressantes”, diz ela. “O casamento, no fim das contas, é a situação onde menos se faz sexo no mundo”, diz. “Claro que há exceções, pessoas que estão casadas há 30 anos e conseguem manter o tesão. Mas essa não é a regra”, continua, reforçando que a monogamia leva, quase sempre, à monotonia.
E o problema não estaria simples e puramente no compromisso de exclusividade, mas também na forma como a fidelidade é exercida. “Tudo é junto. Os amigos são os mesmos, as atividades são as mesmas, o lazer é compartilhado, isso satura e acaba transformando a relação numa grande amizade”, diz. “O marido vira o melhor amigo, o melhor pai, o melhor tudo. Mas não dá tesão”, ilustra.
“O grande desafio dos casais é ter companheirismo e não deixar a amizade suplantar a parceria e o interesse sexual”, concorda a psicanalista Carmita Abdo. “Mas não há fórmula pronta para isso. Os casais que não se amalgamam tanto têm mais possibilidade de fazer o interesse sexual durar mais tempo”, diz ela, reforçando a tese de que autonomia é importante para a relação.
Regina diz que a mulher é a primeira a perder o tesão na relação. “O homem fica excitado com mais rapidez. Pode não morrer de tesão por uma mulher, mas transa. Já a mulher precisa de tempo para excitar-se, para ficar lubrificada. A mulher recebe o homem dentro dela. E se ela não estiver devidamente excitada, o sexo vai se tornar uma coisa cada vez mais chata e até incômoda”, discorre.
Anos e anos de monotonia sexual em casa podem levar ao extremo oposto: uma liberação total. Casada desde os 19 anos com planos de ser “feliz para sempre”, a escritora Viviane Ka, 29, percebeu que a vida com o marido não correspondia exatamente ao que esperava do conceito de felicidade. “Estava tudo monótono na minha vida, uma chatice. Eu estava num casamento morno, cismando que existia muito mais a descobrir no campo sexual. Por isso, resolvi fazer minha própria história”, diz ela. Sua experiência resultou no recém-lançado Os 10 mandamentos para a felicidade sexual da mulher (Editora Jaboticaba). Sob o pseudônimo de Aretusa von de Menezes, ela conta, no livro, a trajetória de excessos que acabaram por conduzir ao equilíbrio. O périplo incluiu sexo com desconhecidos, garotos de programa, amigos, amigas e maridos de amigas.
Autor do também recém-lançado Sem drama na kama – Novos caminhos para o prazer (Prestígio Editorial), o psicoterapeuta Moacir Costa diz que crise no casamento é uma constante. “Com a emancipação da mulher, ela passa a ter opiniões próprias, e expõe as questões do sexo. Mas o estresse e as questões da vida contemporânea também contribuem para esta crise. Acaba o diálogo, a convivência. Perde-se a libido e o sexo despenca”, diz ele, sugerindo medidas como menos trabalho, menos álcool e menos peso, além de mais conversa, para recuperar a qualidade de vida sexual. “A mesmice acaba com a relação”, diz.
Especialista no assunto, Moacir lembra que a disfunção erétil deve ser levada em conta. Segundo pesquisas, o problema atinge, em maior ou menor grau, cerca de 11 milhões de brasileiros. “Cerca de 40% das mulheres desses homens ficam com a auto-estima abalada diante da situação, o que afeta em muito a vida sexual. É preciso desmistificar o assunto e proceder ao tratamento adequado”, diz.
Criatividade na cama não é palavra bem-vinda para alguns especialistas. “Há quem diga que o negócio é ser criativo. Dizer isso é até uma maldade. Não adianta querer inventar quando não há tesão. Sem libido, não dá para ser criativo. É ela que gera criatividade nas relações. Definitivamente, não adianta espelho no teto sem tesão”, dispara a sexóloga Regina Lins.
Embora as prateleiras das livrarias estejam abarrotadas de títulos de auto-ajuda para melhorar a vida conjugal, não há equação matemática para aplicar no quarto. Apenas num aspecto todos concordam: há algo de morno, muito morno, na cama.
Bruno Albertim.
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