Nunca é tarde para recomeçar uma vida a dois
Encontrar o “par perfeito” ou a “tampa da panela” é uma busca de desde a formação do mundo, quando houve a criação do homem. No segundo capítulo de Gênesis, Deus disse que “não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda” (Gênesis 2:18b). Ou seja, desde o princípio, houve a preocupação de propiciar condições e ambiente de felicidade para o homem.
E porque o homem não foi feito para viver na solidão, ele investe tanto em relacionamentos. No início do namoro, por exemplo, tudo é belo. Mas após o casamento, os anos de convivência, o nascimento de filhos e tantas outras responsabilidades, a relação pode acabar sendo deixada de lado. Como resgatar o galanteio que ficou para trás, antes que a distância entre o casal implique um profundo abismo? Como, enfim, refazer o casamento sem que ele tenha se desfeito, de modo a ter novamente o “primeiro amor”, do início de tudo?
Priorizar a intimidade do casal está no topo da lista para a reconstrução da história de amor. Reservar um tempo para ficar junto é o primeiro passo para isso. Dessa maneira, é possível revigorar a cumplicidade existente entre os dois. A consequência é o reconhecimento dos erros e falhas, liberação do perdão, conhecimento mútuo, prática do carinho, respeito, amor e sedução, que voltam a ser notados pelos casais. Esse é o grande desafio do casal que busca a plenitude de uma sólida relação após viver tantas fases e se acomodar com o peso da rotina.
Ciclos de uma relação
Quando Deus oficiou o casamento de Adão e Eva, estabeleceu um plano para todos os casais. Gênesis 2:24 diz: “deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Assumido o compromisso diante de Deus e dos homens, o casal passa a viver a mais íntima de todas as relações humanas. Porém, à medida que o tempo vai passando, surgem as diferenças.
Segundo o pastor Josué Gonçalves, que é terapeuta familiar e líder do Ministério Família Debaixo da Graça – Assembleias de Deus em Bragança Paulista/SP, o casamento possui cinco fases. A primeira delas é a fase do encantamento. É quando um está enamorado do outro e se sente plenamente realizado e absolutamente preenchido pelo companheiro. Nessa fase, o terapeuta familiar aponta que o amor é cego, que existe uma nutrição constante do vínculo e há a sensação de completude e totalidade.
Em segundo lugar, vem a fase do desencantamento e desidealização. É a etapa da confrontação das expectativas irreais do casamento. É quando se começam a ver as diferenças entre as imagens construídas do outro e os seus lados sombrios no cotidiano. É nesta fase que muitas pessoas se desesperam na tentativa de mudar o outro, a fim de que ele corresponda à imagem idealizada. “Neste momento, as pessoas são capazes de qualquer coisa: sufocam, oprimem, chantageiam, ameaçam, castigam-se mutuamente”, pontua o líder do Ministério Família Debaixo da Graça.
Vencida essa barreira, o casal alcança a fase do “crescei e multiplicai-vos”, descrita em Gênesis 1:28b, que vem em terceiro lugar e é quando a mulher se dedica aos filhos pequenos e o homem está se afirmando profissionalmente, consolidando sua carreira.
É o momento onde há o perigo de perder de vista o parceiro dentro do casamento. O homem mergulha no trabalho e a mulher é engolida pelo cuidado com a casa e as crianças e, muitas vezes, também com sua própria definição profissional. Essa tensão drena todas as energias do casal. É uma época onde os dois engavetam frustrações, mágoas e raivas do passado.
E se o casal nesta fase não buscar saída em Deus, com certeza, o fim será o aprofundamento de emoções negativas que já estavam emergindo no fim da fase de encantamento. Sendo assim, o relacionamento pode estagnar-se, encalhar e virar uma prisão insuportável. Os momentos de desencantamento são muito dolorosos, já que envolvem doses inevitáveis de frigidez emocional.
Ao sobreviver de situações de intenso envolvimento emocional, o casal entra para a quarta fase. Esta é a etapa de questionamento e redefinições. É a fase na qual os parceiros questionam o vínculo e fazem um balanço da ligação. Nessa circunstância, está a grande oportunidade de o casal se libertar dos ressentimentos e frustrações em relação ao cônjuge. Aqui está a grande chance para voltar ao “primeiro amor”, para refazer o casamento antes mesmo de ele ser desfeito.
Alcançar essas mudanças implica enfrentar um processo trabalhoso que pode, em compensação, dar lugar à vitória de Deus na relação: ternura, cuidado com o outro e identificação. Quando não há esforço e interesse em mudar a situação, o resultado final é o divórcio emocional ou a convivência amarga em um casamento morto.
A quinta e última fase, de acordo com o pastor, é a de reintegração, quando os filhos já estão adultos e o casal pode se redescobrir e se reaproximar. É quando os dois, marido e mulher, conscientes do que significa “casamento”, conseguem superar as fases difíceis e seguir juntos. “Podemos dizer que, nesta fase, os dois já atingiram o equilíbrio entre a individualidade e a intimidade. Não existe mais disputa sobre quanto é meu, quanto é seu e quanto é nosso. O que há é companheirismo, compromisso de amizade e comunhão”, conclui Josué Gonçalves.
É claro que as fases não são rígidas, com tempos definidos e sequências predeterminadas, com uma necessariamente seguindo a outra. Mas, de fato, há comprovações científicas de que são momentos que todos os relacionamentos atravessam, com maior ou menor intensidade.
Equilíbrio na renúncia
Ter um casamento dos sonhos, assim como o de Jacó e Raquel, descrito na Bíblia, não é tão comum nos dias atuais. Nem todos estão dispostos, assim como os personagens bíblicos, a pagar o preço de se alcançar a perfeição dos seus relacionamentos, seguindo o verdadeiro amor que emana das profundezas do coração, o amor altruísta, muito menos depois de muitos anos juntos e de todos os desgastes pelos quais uma relação pode passar.
Diante dessa realidade, é preciso que o casal sempre busque recapitular onde ficou o sentimento que um dia os uniu. Afinal, um entendimento errôneo do amor tem frustrado muitos e destruído lares incontáveis. “O casamento é uma aliança. Mas a nossa sociedade humanista, centrada no ‘eu’ e moldada pelo relativismo gerou uma acomodação teológica que nos afasta rapidamente do plano original de Deus”, ressalta pastor Dinart Barradas, ministro da Universidade da Família.
O fato é que não existe a hora exata de trazer de volta o clima precioso de descobertas e encantamento. É preciso alcançar um congraçamento, voltando ao passado, agindo como um casal em pleno início de relacionamento, revivendo as mesmas emoções e reencontrando a admiração e o desejo que ficaram perdidos no tempo. Por isso, deve-se evitar contagiar o outro com a má disposição e sempre incentivá-lo a buscar algo em comum que os faça conviver de forma harmoniosa, relaxante, interessada e dedicada.
Cuidar do parceiro; perguntar sobre o seu dia de trabalho; oferecer ajudar para vencer as objeções da vida; dedicar tempo; se preparar e arrumar para estar bem apresentável; se revelar uma companhia desejada; manter-se perto – mesmo estando distante – através de mensagens e ligações são formas de apimentar a relação. Saber se comunicar, utilizando palavras positivas e evitando afirmações que possam se arrepender futuramente, escutar e não querer ter sempre razão, saber quando não insistir também são imprescindíveis na reconstrução do diálogo que foi desgastado.
Possuir confiança no companheiro, estimar o mesmo projeto de vida, resgatar a atração e o sentimento são ações que devem estar sempre presentes nesse processo de reedificação do casamento. Não menos importante é retomar o hábito do contato físico. Andar de mãos dadas, afagar o rosto, beijos para recordar, reavivar símbolos que só ambos entendem e agradecer sempre as atenções também fazem parte do conjunto de renovação e estabilização da história.
O pastor Dinart, que está casado há 30 anos, conta que conserva um bom nível de carinho e romantismo. “Ainda me lembro de termos sido bastante companheiros e cúmplices em nossos primeiros anos. As coisas não são tão transitórias ou características de períodos da vida conjugal. Tem muito mais a ver com as inclinações de personalidade e a maneira como se investe na relação”, detecta o pastor.
Nesse quesito, o Ministério Cristão de Apoio à Família mostra que esse fracasso só vem a acontecer quando o cônjuge não deixa sua herança do passado e se torna alguém plural, isto é, tem várias maneiras de pensar, várias atitudes e personalidades, trazendo complicadores para um relacionamento saudável e duradouro. A singularidade é fonte de vitalidade e formosura nos relacionamentos. Por isso, a importância de preservar a personalidade do companheiro e buscar um equilíbrio através da renúncia de prazeres secundários.
Deixar pai e mãe significa deixar as emoções para trás e controlá-las de tal maneira que agrade o sempre o bem estar do cônjuge. Quase a totalidade dos problemas e atritos conjugais é causada pelo tom de voz inadequado, por gestos impróprios, por falar ou silenciar em momentos errados. O verdadeiro casamento está na união de corpo, alma e espírito, e isso envolve sonhos e propósitos.
O líder do Ministério Cristão de Apoio à Família, pastor Gilson Bifano, pontua geração de filhos, união sexual e companheirismo como os três grandes propósitos do casamento. “Os membros da família devem cultivar o diálogo aberto, a apreciação mútua, dedicar tempo uns aos outros, buscar juntos as soluções dos problemas e compartilhar a fé cristã para que a família, como um todo, seja fortalecida”, reforça.
Edificando na rocha
Na vida de qualquer cristão, Deus deve ser sempre colocado em primeiro lugar. Assim também deve acontecer na reconstrução de um matrimônio. É de responsabilidade dos casados construir uma história consistente adquirida pelo ouvir e praticar contínuo da Palavra de Deus. Se obedecerem esse conselho, Deus promete que esse casamento estará sobre uma rocha que não se abala e é capaz de resistir a todo o tipo de dias maus e contrariedades.
É de comum acordo que o maior manual de casamento que existe é a Bíblia. Não pelo fato de tratar desse assunto com exclusividade, mas porque ela fala do pecador e das atitudes perversas que destroem a relação com Deus e, consequentemente, com os próprios parceiros no casamento. Inclusive, aconselha-se que todo casal deve ler uma vez por mês o livro de Cantares, para que a chama do amor permaneça sempre acesa.
O verdadeiro triângulo amoroso é formado pelo marido, esposa e Deus. Ele deve ser o centro da vida, a vontade dEle precisa estar em primeiro lugar e deve ser colocada como objeto do amor supremo, que enobrece a vida conjugal. O casal deve sempre se submeter à Palavra de Deus sem questionar. E a Palavra é bem clara no que diz sobre as competências de cada um.
São diversos os textos em que constam as responsabilidades do casal, independente do período que está vivenciando na relação. Ele, como “cabeça” da mulher, conforme descrito em I Coríntios 11:03b, assume também o amor incondicional à esposa como Cristo ama a igreja; é o administrador do lar, o mantenedor dos valores morais e provedor da casa. Já a mulher deve se portar como auxiliadora e submissa ao seu marido.
A vida a dois é uma escola na qual todos os dias se aprende um pouco. O grande segredo é manter-se aberto para aprender e crescer a cada dia como marido ou esposa. O romantismo deve ser sempre cultivado, assim como a dignidade e o respeito. O casal deve sempre estar se perguntando: o que posso fazer hoje para que meu casamento seja um pouco melhor? Para isso, é preciso estar se reinventando e renovando.
Deixar as crianças com parentes e amigos pelo menos uma vez por semana, para que tenham intimidade já é um bom começo. Sair da rotina e surpreender o companheiro com um almoço especial, viagem, cartinha, flores e diversos agrados, devem ser uma constante. Abrir mão daquilo que muito lhe interessa, para que o casamento seja priorizado é uma prova de amor que precisa ser sempre demonstrada.
O casamento é a união de um homem e de uma mulher que constroem em comunhão e em amor uma vida em comum. “Casamento é uma entrega sem reservas visando à felicidade do cônjuge. Casamento é um pacto social, monogâmico e emocional, legal. Casamento é uma viagem para toda a vida”, resume o pastor Josué. Seja qual for a história, sempre é preciso descobrir o ‘novo’ que existe no companheiro que Deus escolheu para que vivesse até ao seu lado até o dia em que forem unidos na eternidade.
Revista Comunhão
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