O Recomeço no Casamento

 Certa vez assisti a um filme muito interessante que falava de um rapaz que lutava para apagar da memória um grande amor que ele tinha tido. Ele queria deixar de pensar, de lembrar, de sonhar com a pessoa amada que tinha feito ele sofrer. Já que em filmes tudo é possível, eles tinham inventado um tipo de máquina que apagava a memória. Essa máquina era inserida na mente da pessoa, e fazia com que ela nunca mais se lembrasse dos erros cometidos.

Ao ver aquele filme, fiquei pensando: Será que isso seria uma boa ideia? Será que não valeria a pena apagar da nossa memória, ou da memória da pessoa que amamos, os momentos quando a magoamos, ferimos, maltratamos. Seria ótimo apagar da memória os erros, os ressentimentos, as faltas, as noites mal dormidas.

Sim, muitas pessoas não mediriam esforços para passarem por esse processo. Isso parece perfeito. Mas não é bem assim. Houve um detalhe no filme que me fez pensar se isso seria realmente uma boa ideia. Mesmo depois de já ter apagado de sua memória a moça que o tinha feito sofrer, o rapaz voltou a encontrá-la e tenta conquistá-la novamente, como se ela fosse uma desconhecida. Ou seja, pelo que pude entender do filme, a ideia que ficou foi que o erro cometido, se fosse apagado, abriria caminho para cometermos novamente. Cada erro, situação triste, falha, sofrimento causado, serve para nos ensinar como podemos crescer, amadurecer, e até mesmo aumentar o amor que temos pela outra pessoa. Esquecer, ignorar o erro, pode ser uma maneira de fazer com que ele aconteça novamente.

Então, será que por essa razão estamos fadados a nunca mais nos esquecermos do que fizemos, e sermos eternamente perseguidos pela culpa de nossos erros e falhas? Será que não há saída para isso?

Não. Não precisa ser assim. Deus nos proporcionou um mecanismo para podermos ter a oportunidade de começarmos novamente, de reiniciarmos nossa busca por algo superior, algo melhor. Esse mecanismo se chama PERDÃO.

Desenvolver um espírito de perdão para com todos, mas principalmente para com nosso cônjuge, nos proporciona uma ótima maneira de superarmos as dificuldades resultantes dos conflitos que vivemos em nossa vida. E, tem mais, fomos feito de tal maneira por Deus, que nossa saúde emocional depende de nossa atitude para com aqueles que nos ofendem. Para sermos felizes e saudáveis nessa vida, precisamos aprender a perdoar. Se isso é verdade para com conhecidos, quanto mais para com o cônjuge.

Só que há um detalhe muito importante: o perdão não é um ato normal do ser humano. Perdoar é algo que nos torna semelhantes a Deus, pois Ele é o exemplo, a representação do verdadeiro perdão.

E tem mais, só podemos alcançar o perdão de Deus se estivermos dispostos a perdoar os outros. Por essa razão, podemos incluir também o fato de que o perdão é um ato da vontade, da decisão, de perdoar.

Deus nos mostra o quanto Ele nos perdoa. Ele nos mostra o quanto precisamos do Seu perdão para viver essa vida. E então, Ele nos convida a partilhar esse perdão com as pessoas que nos têm ofendido. Afinal, é isso o que está escrito na oração do PAI NOSSO, que Deus no ensinou como a oração modelo. Ele nos diz: “Perdoa as nossas ofensas, assim como temos perdoado aos que nos têm ofendido”. Ou seja, o perdão é um ato de passarmos adiante aquilo que recebemos de Deus.

O problema é que estamos sempre prontos a aceitar o perdão dos outros, mas não estamos nada dispostos a oferecer o perdão. Somos muito tolerantes conosco mesmos, mas extremamente intolerantes para com os outros. E, uma coisa que Deus não é capaz de perdoar é alguém que desenvolve um comportamento de não oferecer perdão.

Logo, percebemos que precisamos desenvolver nossa capacidade de perdoar. O problema é que muitas pessoas não entendem o que significa perdoar. Para tentar entender esse ponto, quero começar explicando o que perdão não é:


Perdão não é a mesma coisa que tolerância. Perdoar não significa ignorar que algo de ruim esteja acontecendo. Não significa fazer de conta que não há nada errado, e deixar que algo de ruim continue acontecendo. Se o que estiver ferindo você for uma questão de fraqueza moral, tolerar esse tipo de erro não é perdão, é indiferença, é falta de limites para o mal.

Perdão não é indulgência. Perdoar não significa ter uma atitude muito passiva para com um erro muito grave. É ser capaz de reagir do jeito que é preciso para cada situação. Por isso que é necessário que estejamos em contato com o perdão de Deus. Ter autocontrole para reagir de acordo com o que se pede na situação é algo que apenas a influência de Deus pode trazer.

Perdão não é o mesmo que condescender com o erro. Não significa deixar as coisas continuarem a acontecer. Perdoar não deixa de exigir de nós um posicionamento de respeito para conosco mesmo.

Perdão não tem nada a ver com justiça. Perdoar é o ato de abrir mão de permitir que o ressentimento e a mágoa continuem acompanhando sua vida. Agora, se você exigir justiça, que a retribuição seja dada pelo erro cometido, isso não é perdão. Perdão é permitir que Deus mesmo seja quem traga as consequências na vida da pessoa que nos fez mal. Ainda mais se for o cônjuge, pois isso implica em viver sob o mesmo teto. Pode ter certeza de que para a pessoa, o sofrimento, a culpa, já serão suficientes para obter o perdão.

Perdoar é ser como Deus, é oferecer uma segunda chance, é permitir que a outra pessoa tenha um novo começo. O melhor de tudo é que esse novo começo não é o mesmo que apagar o passado, mas usar o passado como lição, para nos colocarmos mais fortes no futuro.

Que Deus abençoe sua família,

Osmar Reis Junior