sábado, 15 de setembro de 2012

Em Defesa da Família Natural

Os últimos dois séculos testemunharam uma transformação imensa no modo como os seres humanos vivem, pensam, trabalham e organizam suas vidas. Ao mesmo tempo, a instituição da família vem sofrendo ataques contínuos, sendo desmembrada e enfraquecida pelas sutis mudanças e tendências culturais. Agora, mal entramos no século XXI e estamos diante da realidade de que a instituição da família está enfrentando um desafio ainda mais profundo: o desafio de manter uma definição coerente de realidades básicas como casamento, parentesco e família natural.

Os revisionistas sociais habitualmente descrevem a unidade da família, que consiste de pais e seus filhos biológicos ou adotados, como a família “nuclear”. Essa não é uma descrição errada, pois esse padrão básico de relacionamentos, começando com o casamento de um homem e uma mulher e estendendo-se a seus filhos, realmente forma o núcleo da família em sua extensão maior.

Apesar disso, os revolucionários sociais de hoje rotineiramente dispensam a família nuclear como um produto de épocas passadas.

Em anos mais recentes, alguns defensores da família se referem à unidade básica da família como a família “natural”. Esse termo identifica corretamente a organização formada por marido, esposa e seus filhos como a unidade familiar mais importante e identificável para proteção, educação e estabilidade social. Tal desenvolvimento é saudável, pois mesmo que o conceito de família nuclear tenha se tornado menos útil, o foco da família natural esclarece as questões de modo considerável.

Agora, Allan C. Carlson e Paul T. Mero, defensores da família, estão disponibilizando “A Família Natural: Um Manifesto”, um documento que oferece uma defesa abrangente da família, sustentada por uma análise honesta e criteriosa das ameaças hoje dirigidas contra a família como instituição.

O manifesto começa com uma narrativa da vida em família, apresentando um jovem e uma moça que são atraídos um pelo outro e celebram essa união no pacto de casamento. Conforme explicam Carlson e Mero: “A união conjugal construída na base da fidelidade, obrigações e respeito mútuos permite que homem e mulher desenvolvam seu pleno potencial; eles se tornam o que seu Criador planejou, um ser completo”.

Naturalmente, esse casamento cria uma nova família, identificada no manifesto como “a primeira e mais fundamental unidade da sociedade humana”. Essa unidade estabelece uma nova ordem econômica na medida em que marido e esposa “têm parte no trabalho de prover e extrair os interesses, forças e talentos um do outro”. Como Carlson e Mero esclarecem: “Eles edificam um lar que se torna um lugar especial na terra. Nos séculos passados, a pequena fazenda ou a oficina do artesão era a expressão comum dessa união entre o sexual e o econômico. Hoje, são mais comuns as casas geminadas, os apartamentos e os lares suburbanos. Contudo, a pequena economia doméstica permanece o centro vital da existência diária”.

Da união natural do casamento “flui nova vida humana”. Filhos não são vistos como imposições casuais sobre as chances de os pais alcançarem seu pleno potencial como indivíduos, mas em vez disso entende-se que eles são os primeiros e mais importantes presentes dados à união conjugal. Conforme explicam os autores: “Filhos são a principal finalidade, ou propósito, do casamento”.

Em linguagem pitoresca, Carlson e Mero descrevem as alegrias, tristezas e desafios que uma família jovem enfrentará. Os pais dirigem suas energias para proteger, educar e criar os filhos, acompanhando o desenvolvimento deles nas experiências de joelhos esfolados, primeiras obrigações domésticas e seus passos iniciais no mundo. A mãe e o pai “são os primeiros professores da criança; seu lar, a primeira e mais vital escola”. Os pais transmitem para seus filhos “o treinamento especial para viver e lhes ensinam a satisfação de conversar, ler, raciocinar e explorar o mundo”.

A partir do contexto protegido da família natural, vem também uma família em toda a sua extensão maior. Os parentes que não são os pais e os filhos são acolhidos na vida da família e gerações se ligam num compromisso comum com os pais e as gerações futuras. “Cada geração se enxerga como um elo numa corrente inteira”, relatam os autores, “mediante a qual a família se estende dos séculos passados para os séculos futuros”.

Conforme deixam claro Carlson e Mero, a família natural “abre as portas para uma vida agradável e para a verdadeira felicidade” Em face dos inimigos da família, que rotineiramente criticam a família como uma instituição limitadora que reprime a individualidade, Carlson e Mero entendem que a reciprocidade e generosidade da vida em família, impulsionada e formalizada por obrigações mútuas, solidifica a união da família em experiências e metas partilhadas. “Bondade gera bondade, desenvolvendo um grupo unido trabalhando em amor. Os parentes repartem tudo o que têm, sem esperar nada em troca, só para receber mais do que eles já poderiam ter imaginado”, garante o manifesto.

Por muito tocantes e verdadeiras que sejam essas passagens, esse manifesto é importante pelo fato de que identifica o contexto social maior da vida em família. Carlson e Mero entendem que a família natural é a unidade econômica mais fundamental da civilização. Além disso, eles também compreendem que “a vida política flui de lares em que habitam a família natural”. Mais especificamente, uma vida política justa se forma a partir do contexto da família natural. Conforme eles explicam: “A verdadeira soberania se origina aí. Esses lares são a origem da liberdade com ordem, que é a fonte da real democracia e o terreno certo para o plantio de excelentes qualidades morais”. A vida social pode se estender até as vizinhanças, vilas e unidades maiores, porém tal extensão não substitui a família nem seu valor e importância. Conforme declaram corajosamente os autores desse manifesto: “Os governos existem para proteger as famílias e para encorajar o crescimento e integridade da família”.

Provavelmente, será muito difícil encontrar a última afirmação em livros sobre educação cívica nas escolas públicas, até mesmo naqueles raros distritos escolares em que algo parecido com cívica continua como parte do currículo. O que é mais preocupante é que essa afirmação sofreria oposição direta da elite dominante hoje mobilizada entre faculdades e universidades como revolucionários prontos para arrancar da família suas funções essenciais.

Carlson e Mero compreendem que a família natural agora enfrenta uma crise dramática. Em suas palavras, a família natural “continua sofrendo insultos e ameaças no início do século XXI”. Até que ponto essa situação está ruim? “Os inimigos vêm lançando ataques em todos os aspectos da família natural, desde a união do casamento até o nascimento de filhos na verdadeira democracia de lares livres. Cada vez mais, as famílias apresentam sinais de fraquezas e desordens. Vemos um número cada vez maior de rapazes e moças solitários, rejeitando a plenitude e alegria do casamento, escolhendo em vez disso substitutos baratos ou escolhendo permanecer solteiros, onde eles são presa fácil para o governo, que quer ser tudo na vida deles. Um grande número de crianças está nascendo fora do casamento, terminando sob a custódia desse mesmo governo. Poucas crianças estão nascendo em lares em que os pais estão casados, uma situação que prenuncia que um grave problema na sociedade nos anos seguintes: Diminuição da população jovem e aumento da população idosa”.

O manifesto identifica os revolucionários ideológicos como inimigos da família natural. Conforme declaram os autores: “Alguns filósofos políticos sustentavam que o indivíduo sozinho era a verdadeira célula da sociedade. Eles afirmavam que os laços de família — inclusive entre marido e esposa e entre mãe e filhos — mostravam simplesmente o domínio de uma pessoa egoísta sobre outra. Outros teoristas argumentavam que o indivíduo, sozinho, era realmente oprimido por instituições como a família e a igreja. De acordo com esse ponto de vista, o governo, que se tornava o centro de tudo, era apresentado e defendido como se fosse um suposto agente de liberação”.

Os inimigos ideológicos da família incluem todos aqueles que, qualquer que seja sua motivação, arrancam da família suas funções, reduzem a autoridade dos pais, removem a honra social ligada ao casamento e à família e transferem as funções da família para o governo e sua burocracia que não pára de se expandir. Esses revolucionários sociais incluem as feministas, os defensores do governo como provedor de todas as necessidades humanas, os secularistas e outros revisionistas sociais representados por “avanços” como o “movimento de direitos da criança” e o movimento de “liberação” sexual, principalmente o movimento de direitos homossexuais.

Essas forças ideológicas ganharam muito terreno nas décadas recentes, pressionando mudanças nas leis, nos hábitos sociais, no ambiente de trabalho e na economia do país. O surgimento e rápida aceitação de leis de fácil acesso ao divórcio e a imposição de penalidades sobre o casamento no sistema de taxação de impostos eram evidências tangíveis dos apuros em que se encontrava a família.

Carlson e Mero identificam alguns dos avanços mais prejudiciais como “campanhas conscientes para expulsar o Criador da vida cívica; a propagação rápida da pornografia; novas reivindicações de divórcio fácil; ataques contra o significado da palavra ‘esposa’ e ‘marido’; um aumento na retórica de direitos ‘sexuais’ e direitos de ‘gênero’; campanhas governamentais conscientes com o objetivo de reduzir o tamanho da população; medidas para facilitar o acesso ao aborto; reivindicações de revolução sexual; rejeição dos conceitos de obrigações e compromisso de longa duração, e avanços assustadores na manipulação da vida humana”.

Contudo, por mais prejudiciais que esses avanços tenham sido, a história ainda não acabou. Carlson e Mero merecem crédito por identificarem “o triunfo do industrialismo” como um dos fatores sociais mais importantes por trás do declínio da família. Eles explicam: “Maridos, esposas e até crianças eram atraídos para sair do lar e então organizados em fábricas de acordo com o princípio que regulava onde havia mais necessidade de seu trabalho. Máquinas sem alma minavam a complementaridade natural dos sexos nas tarefas produtivas. Crianças eram deixadas para se virarem sozinhas, pois achava-se que suas famílias não mais guiavam seu futuro. Em vez disso, as crianças agora viam apenas empregadores que eles mal conheciam”.

Essa última descrição tem uma importância especial, principalmente para os conservadores sociais de hoje. Carlson e Mero são conservadores verdadeiros — eles entendem que as incríveis transformações econômicas que mudaram tanto a sociedade humana durantes os dois séculos passados enfraqueceram de modo impressionante a unidade da família. Primeiro, o pai foi removido do lar ou da fazenda a fim de trabalhar num ambiente industrializado. Sem demora, muitas esposas acompanharam, deixando os filhos nas mãos de assistentes do governo ou simplesmente sem nenhuma companhia e supervisão a maior parte do dia. Como conseqüência, o papel da família como a primeira escola e a primeira sociedade foi subvertido pela própria revolução econômica que havia prometido riquezas e oportunidades.

Os conservadores precisam reconhecer que a cultura consumista de hoje cria ameaças diretas à estabilidade e integridade da família. Na busca de bens de consumo, as famílias estão sacrificando tempo, atenção e energia. Quando os casais direcionam sua atenção, tempo e energia para interesses e alvos longe da unidade da família, outros agentes — principalmente o governo — entram em cena. Em seu manifesto, Carlson e Mero fazem muito mais do que só oferecer uma descrição e análise. Eles também oferecem um conjunto de princípios importantes e propõem uma plataforma política para resgatar a família natural.

No final, eles dão uma chamada: “Uma nova tendência está se espalhando no mundo. A essência dessa tendência é a família natural. Convocamos todas as pessoas de boa vontade, cujos corações estão abertos para os estímulos dessa tendência, a se juntarem numa grande campanha. A família natural vem sofrendo muita perseguição, porém aproxima-se o tempo em que a guerra contra as crianças e as agressões à natureza humana acabarão”.

Conforme o entendimento de Carlson e Mero, os inimigos da família natural estão agora na defensiva. Eles podem estar certos. Na verdade, pode ser cedo demais para dizer. Apesar disso, o manifesto que esses autores ofereceram em defesa da família natural exige a atenção de todos os que querem defender a instituição mais essencial da civilização. Esse documento importante veio na hora certa.

Albert Mohle
O documento em inglês “The Natural Family: A Manifesto” encontra-se disponível através do Centro Howard de Família, Religião e Sociedade.

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