sábado, 5 de novembro de 2011

Quando Um Casamento Doce Torna-se Amargo

(Gn 24.63-67; 25.20-21; 26.7-11; 27.1-46)
“Casaram-se e foram felizes para sempre.” Essa pode ser uma frase de impacto, mas não é verdadeira. Combina com um filme romântico, mas não com a vida real. Não existe casamento perfeito. Não existe felicidade automática. A felicidade conjugal precisa ser construída com renúncia e investimento. Cerca de 50% das pessoas que vão sorrindo para o altar no dia do casamento passam o resto da vida chorando por causa do casamento. Cerca de 70% das pessoas que se divorciam e se casam de novo descobrem que o segundo casamento é mais problemático que o primeiro. As feridas abertas pelo rompimento do casamento sangram e doem muito. Doem, sobretudo, nos filhos, as maiores vítimas do divórcio dos pais. O impacto do divórcio na vida de algumas crianças é mais forte do que a morte de um dos pais.

Ao atender uma jovem senhora em prantos, com a palma da mão rasgada numa briga conjugal, perguntei-lhe: “Quantos anos você tem de casada?”. Ela me respondeu: “Dois meses”. Um detalhe, ela era filha de pastor, e o marido, filho de presbítero. O doce ficara amargo ainda na lua-de-mel. Outra mulher, com seis meses de casamento, disse-me: “Eu não sei o que é ser feliz no casamento”. Como está seu casamento? Quão feliz você é em seu relacionamento conjugal? O que você poderia fazer para melhorar seu relacionamento com seu cônjuge?

No casamento, é possível começar bem e terminar mal. E possível começar na dependência de Deus e perder o temor de Deus no meio do caminho. E possível começar em harmonia e terminar com feridas e mágoas. E possível fazer um casamento dentro da vontade de Deus e destruí-lo com as próprias mãos. E possível começar com intenso amor e afogar o casamento no mar da indiferença, da amargura e da separação.

Como está seu casamento? E aquilo que você sonhou? Como está sua família? E o que você planejou? Vejamos agora um casal que começou bem e terminou mal, uma família que tinha tudo para dar certo e sofreu reveses terríveis.

Uma família que tinha tudo para dar certo

O casamento de Isaque com Rebeca tinha tudo para dar certo. Eles formavam o que chamamos de um par perfeito. Vejamos as qualidades de Isaque, um excelente partido, um jovem cobiçado por qualquer mãe como genro, Isaque tinha berço, tinha dinheiro e era um jovem crente. Ele reunia condições físicas, sociais e espirituais para agradar a mais exigente das candidatas ao matrimônio. Vejamos alguns de seus predicados:

Em primeiro lugar, Isaque era jovem. Ele casou-se com 40 anos (Gn 25.20). Tendo em vista que ele morreu com 180 anos (Gn 35.28,29), casou-se muito moço. Isso equivale a um homem que chega aos 80 anos casar-se com vinte anos. Ele estava no auge de seu vigor físico.

Em segundo lugar, Isaque era herdeiro único de uma grande fortuna. Isaque era o filho da promessa, o herdeiro único da grande fortuna de Abraão (Gn 24.35,36). Isaque era aquilo que poderíamos chamar de um excelente partido. Era um jovem rico, membro de uma família importante, depositário de grandes promessas e alvo de grandiosas esperanças. Sua vida financeira estava garantida. Ele não precisaria desgastar-se para granjear riquezas, mas apenas administrar o grande legado recebido do pai.

Em terceiro lugar, Isaque era herdeiro de um futuro espiritual glorioso. A descendência espiritual de Abraão viria por intermédio dele (Gn 21.12). Isaque seria pai de uma multidão. A bênção da aliança passava por ele. Ele era a semente bendita da qual uma multidão haveria de nascer para conhecer e andar com Deus.

Em quarto lugar, Isaque era um homem espiritual. Isaque tinha o hábito de meditar nas coisas de Deus (Gn 24.63). Ele era um homem de oração. Temia a Deus. Aprendeu isso aos pés de seu pai, Abraão.

Veremos, agora, que Rebeca foi escolhida especialmente por Deus para ser esposa de Isaque. Enquanto Isaque meditava e orava, possivelmente pedindo a Deus uma esposa, Deus preparou para ele uma mulher extraordinária. Enquanto Abraão se dedicou a buscar uma esposa para seu filho, Deus lhe deu uma nora com qualidades magníficas. Destacamos aqui algumas iniciativas de Abraão, pai de Isaque, em relação ao casamento do seu filho.

Em primeiro lugar, Abraão entendeu que Isaque precisava casar-se com uma jovem fiel a Deus (Gn 24-3). Abraão sabia que Isaque não podia casar-se com uma cananita (Gn 24.3). Eles não serviam ao mesmo Deus. Eles adoravam outros deuses. Abraão estava decidido a orientar seu filho nessa área vital da vida. Os pais precisam ser mais participativos no processo da escolha do cônjuge para seus filhos. Abraão mandou buscar uma jovem dentre seu povo. Abraão estava convencido de que Deus é quem dá a esposa prudente (Pv 19.14; 18.22).

Em segundo lugar, Abraão procurou o seu servo mais velho para procurar uma jovem com quem Isaque deveria se casar (Gn 24-2). E relevante que Abraão não chamou um jovem, um playboy, um garotão, mas seu servo mais velho, mais experiente, para escolher uma esposa para seu filho. Os jovens precisam ouvir os conselhos dos mais velhos na área do casamento.

Em terceiro lugar, Abraão e seu servo buscaram a direção divina na escolha da esposa de Isaque (Gn 24.7,14). Precisamos orar a Deus pelo casamento de nossos filhos. A vontade de Deus precisa ser feita nessa importante área da vida. Alguém já disse que, se não pedirmos a Deus o nosso cônjuge, o diabo pode nos dar um.

Quando o servo de Abraão encontrou Rebeca, ele não teve dúvidas de que ela era a resposta de suas orações e de que estava diante daquela que o próprio Deus preparara para Isaque. Rebeca tinha qualidades extraordinárias. Tinha o perfil ideal para ser a esposa de Isaque. Vejamos suas qualificações:

Em primeiro lugar, Rebeca era uma jovem bonita (Gn 24.16). Ela era uma moça graciosa, bela e encantadora. Bela por fora e bela por dentro. Tinha aparência física agradável e também uma vida interior com conteúdo.

Em segundo lugar, Rebeca era uma jovem trabalhadora (Gn 24.15). Ela era pastora, e não uma peça de porcelana, frágil, indefesa e mimada. Ela não cresceu numa redoma de vidro, numa estufa familiar, mas na arena do trabalho. Seu caráter foi forjado na urdidura da luta. Era uma jovem preparada para os desafios da vida, e não uma donzela frágil e sem tempera para os combates da vida.

Em terceiro lugar, Rebeca era uma jovem prestativa (Gn 24.20). Logo que Rebeca viu Eliezer com seus camelos, providenciou água, tirando-a do poço para o peregrino e seus animais. Rebeca tinha força nos braços, destreza nas atitudes e generosidade no coração.

Em quarto lugar, Rebeca era uma jovem amada pelos pais (Gn 24.55). Tinha saúde emocional. Não precisava se entregar ao primeiro aventureiro nem tinha carências afetivas. Era uma jovem bem resolvida emocionalmente, com uma auto-estima saudável.

Em quinto lugar, Rebeca era uma jovem decidida (Gn 24.57,58). Logo que ela entendeu o propósito de Deus para sua vida, dispôs-se a deixar pai e mãe e unir-se àquele que Deus havia preparado para ela. Sair do ninho dos pais antes da hora, prematuramente, pode ser um desastre, mas deixar de sair na hora certa também pode ser uma fonte de desalento. Rebeca tinha decisão própria. Ela sabia fazer suas próprias escolhas com segurança.

Em sexto lugar, Rebeca era uma jovem recatada (Gn 24.65). Quando ela viu Isaque, cobriu o rosto com o véu. Ela, em vez de despir-se e se mostrar insinuante, buscou o recato. Hoje, muitas jovens tentam atrair seu pretendente, seduzindo-o pelos encantos do corpo, vestindo-se provocantemente, mas a jovem sábia é recatada e busca ressaltar os predicados morais, mais do que os dotes físicos.

O resultado desse conjunto de medidas é que Isaque, ao ver Rebeca, amou-a à primeira vista (Gn 24:67). Foi um encontro curto, mas eficaz por causa da longa preparação. Hoje, temos relacionamentos vulneráveis, porque eles começam sem nenhum planejamento, sem nenhuma preparação espiritual. O casamento de Isaque e Rebeca aconteceu no tempo de Deus, dentro do projeto de Deus, conforme a vontade de Deus.

Rebeca era estéril. Por ela, Isaque orou vinte anos, e Deus ouviu sua oração. Ela foi curada, e concebeu, dando à luz dois filhos gêmeos, Esaú e Jacó (Gn 25.21,26).

Uma família ameaçada pela imprudência

Isaque era um homem de Deus, mas cometeu alguns erros graves em seu casamento. Listaremos alguns deles:

Em primeiro lugar, a falta de transparência (Gn 26.7-11). Ele imitou os erros de seu pai, Abraão. Abraão mentiu sobre Sara, sua mulher, para poupar sua vida. Ele enfraqueceu o mais estreito dos laços humanos para livrar sua pele. Ele acovardou-se acerca do assunto mais sagrado do casamento, a fidelidade conjugal, e, assim, expôs Sara a uma situação de profundo constrangimento. Isaque, de igual forma, expôs Rebeca, sua mulher, ao perigo (Gn 26.7), colocando-a na vitrina da cobiça e do desejo. A beleza de Rebeca tornou-se um fator de crise no casamento. Isaque teve três atitudes reprováveis nessa falta de transparência:

Primeiro, a mentira. O mesmo Isaque que tivera tantas vitórias com Deus fracassa, agora, na área moral. Ele, que já vencera provas maiores, agora cai diante de uma prova menor. Israel venceu Jericó e caiu diante de Ai. Davi venceu um leão e caiu na teia da impureza. Sansão matou mil filisteus com uma queixada de jumento, mas caiu no colo de uma filisteia. Isaque, para poupar a sua vida, afirma que Rebeca é sua irmã. Ele nega o mais estreito dos relacionamentos. Para salvar sua pele, põe sua mulher em risco. Ele expõe sua mulher na vitrina dos desejos. Em vez de amá-la e protegê-la, Isaque a expõe. Mas a mentira tem pernas curtas: a mentira contada (Gn 26.7) torna-se mentira descoberta (Gn 26.8). Isaque era marido dentro do quarto e irmão na rua. Ele estava vivendo uma mentira. A mentira descoberta torna-se mentira reprovada (Gn 26.10,11). Isaque havia feito um grande mal a si mesmo, à esposa e ao povo filisteu. Sua mentira era uma loucura consumada que abalou os alicerces da confiança de seu casamento.

Segundo, o egoísmo. Isaque pensou só em si mesmo. Ele olhou sua mulher como um objeto que podia ser usado para sua proteção. Em vez de proteger sua mulher, fez dela seu escudo. Ele abusou de Rebeca, sem respeitar seu caráter e sua dignidade. Sua mentira e seu egoísmo eram uma negação de seu amor e de seu romantismo. Ele acaricia sua mulher no recesso do quarto e nega seu casamento em público. Sua covardia é maior do que o seu amor. Há cônjuges que só conseguem ter intimidade na cama, mas não expressam mais a harmonia conjugai nas suas palavras e atitudes. A partir daquele momento, Rebeca não dialoga mais com Isaque. Eles fingem uma harmonia que não mais existe. O diálogo morreu na vida daquele casal. Quem planta egoísmo colhe solidão.

Terceiro, o medo. O amor lança fora todo o medo. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo suporta. O medo de Isaque foi desamor à esposa e descrença em Deus. Isaque conseguiu grandes vitórias na vida profissional. Tornou-se um homem riquíssimo, mas fracassou no casamento. O pecado é maligníssimo. Isaque aprendeu a mentira com seu pai. Rebeca aprendeu a mentir com seu marido. Jacó, com a sua mãe.

Em segundo lugar, a falta de confiança e de comunicação entre o casal (Gn 27.5). O tempo e a rotina começaram a desgastar aquele lar. O relacionamento de Isaque e Rebeca ficou estremecido. A comunicação morreu entre eles. Não havia mais diálogo. A harmonia do casamento era coisa do passado, esse casal que começou de maneira tão bonita, agora chega a velhice sem intimidade, sem comunhão, sem diálogo. Agora Rebeca escuta os comentários do marido detrás da porta. Isaque não partilha com ela os desejos de seu coração. Um silêncio impera entre eles. Eles não confiam mais um no outro.

Em terceiro lugar, a falta de sabedoria na criação dos filhos (Gn 25.28; 26.5-8). Dois erros graves são cometidos por Isaque e Rebeca na criação dos filhos gêmeos:

Primeiro, eles tem preferência por um filho em detrimento do outro (Gn 25.28). Eles ficaram vinte anos sem ter filhos, e, agora, os filhos são transformados em problemas. Eles transformaram uma bênção num problema. Os filhos, em vez de unir, separam o casal. Isaque tem preferência por Esaú, e Rebeca, por Jacó. Tem favoritismos. Eles fizeram dos filhos um motivo de tropeço para o casamento. Eles cometem um grave pecado contra os filhos. Eles tem preferência por um filho em prejuízo do outro. Jacó aprendeu esse erro com os pais e o comete mais tarde, amando mais a José que seus irmãos.

Segundo, eles semeiam o ciúme, a competição e o ódio no coração dos filhos (Gn 27.5-8). Eles lançaram no coração dos filhos o ciúme, a inveja, a disputa e a competição. Em vez de amigos, os filhos cresceram como concorrentes e rivais. Eles se esqueceram de que, na família, primeiro vem o cônjuge e, depois, os filhos. Rebeca ensina Jacó a mentir. Esaú passa a odiar seu irmão e a desejar sua morte (Gn 27.34,36,41). Jacó precisa fugir de casa para salvar sua vida. Esaú, para vingar-se dos pais, pune-se a si mesmo, casando-se com mulheres filisteias, que se tornam amargura de espírito para seus pais.

Em terceiro lugar, a falta do temor a Deus nas decisões (Gn 27.13). Quatro fatos nos chamam a atenção nesse episódio:

Primeiro, a atitude pecaminosa de Isaque. Isaque peca contra Deus e contra seus filhos ao querer inverter o propósito de Deus (Gn 25.23). Deus escolhera Jacó, mas Isaque queria abençoar Esaú. Isaque queria interferir no e inverter o projeto de Deus. Ele queria desfazer a obra de Deus, mudar os decretos de Deus. Lutar contra Deus é abraçar uma luta inglória. Ninguém pode lutar com Deus e sair vitorioso. Os planos de Deus não podem ser frustrados.

Segundo, a atitude pecaminosa de Rebeca. Rebeca tenta dar uma mãozinha a Deus usando o expediente da traição e da mentira. Rebeca queria fazer a coisa certa de forma errada. Mas Deus não precisa de nossa ajuda. Ele é poderoso para fazer tudo quanto ele mesmo estabeleceu. Rebeca estava fraca espiritualmente e começou a duvidar do cumprimento da promessa de Deus a Jacó. Isaque estava prestes a dar a bênção que Deus prometera a Jacó a Esaú. Então, ela tomou o destino dos filhos em suas próprias mãos. Ela não acreditou em Deus. Ela duvidou de Deus. Ela passou à frente de Deus. Ela fez as coisas do seu modo. Ela não aproveitou o momento para conversar com o marido. Ela decidiu enganar o marido e trair o filho Esaú. Ela instigou Jacó a mentir, a enganar e a trapacear. A mentira vem do Maligno. Mas Rebeca estava tão cega e tão longe de Deus que chegou a ponto de perder o temor a Deus (Gn 27.13).

Terceiro, Esaú, ao ver o seu lar vivendo de aparências, desprezou Deus. Esaú passou a desprezar as coisas de Deus. Tornou-se um profano. Ele menosprezou os dons de Deus. Ele vendeu seu direito de primogenitura. Esaú, ao perceber que seus pais viviam apenas uma coreografia de espiritualidade, casou-se com mulheres pagas. Esse casamento foi uma tragédia em sua vida e na de seus pais (Gn 26.34-35).

Quarto, Jacó aprendeu a ser um enganador dentro da casa de seus pais. Jacó, movido pela vontade inflexível de sua mãe, en¬ganou seu velho pai. Mentiu, forjando sua identidade. Passou-se por Esaú. Blasfemou contra Deus e deu um beijo de mentira em seu pai (Gn 27.18-20,24,26,27). Ele aprendeu com a mãe e, daí para a frente, viveu como um suplantador, um enganador. O lar é um campo de semeadura. Nós escolhemos o que plantamos. Refletimos quem somos em nossos filhos. Bebemos o refluxo de nosso próprio fluxo. Nós nos multiplicamos e nos reproduzimos na vida de nossos filhos. Porque Isaque e Rebeca plantaram a falta de diálogo, seus filhos cresceram sem amizade. Porque Isaque e Rebeca tinham preferências, seus filhos cresceram como rivais. Porque Isaque e Rebeca semearam competição entre os filhos, eles colheram o ódio de Esaú por Jacó. Porque eles não cultivaram amizade entre os filhos, passaram a velhice na solidão, longe dos filhos.

Uma família que colhe os tristes resultados de sua imprudência

Quem semeia colhe. Colhe o que planta, colhe mais do que planta e colhe o que não quer ceifar. Destacamos dois pontos para nossa reflexão.

Em primeiro lugar, Isaque e Rebeca não aprenderam com os erros e permitiram que a família fracassasse pouco a pouco. Todo casal precisa aprender a reconhecer as falhas e se corrigir. O fracasso só é fracasso quando não aprendemos com ele. O fracasso não pode ser nosso coveiro; precisa ser nosso pedagogo. Isaque e Rebeca não faziam correção de rota. Eles não discutiam os problemas, nem se perdoavam. Eles deixavam as coisas acontecer. O divórcio começa com a falta de diálogo dentro de casa. Há casais divorciados vivendo debaixo do mesmo teto. Eles empurram a vida com a barriga e jogam os problemas debaixo do tapete.

O que destroi um casamento, uma família, normalmente, não são os grandes problemas, mas os pequenos problemas não resolvidos em tempo oportuno. Salomão alerta sobre as raposinhas que devastam as vinhas em flor. Os maiores seres vivos do Planeta são as sequoias, as árvores gigantes no sul da Califórnia. Elas são maiores árvores do mundo. São necessários dezoito homens para abraçar o caule de uma sequoia. Um dia, uma dessas árvores gigantescas foi tombada ao chão. Os especialistas curiosos foram pesquisar a causa desse colapso. Descobriram que besouros pequenos, como cupins, haviam minado, solapado, aquela árvore, roendo-a até que ela fosse completamente destruída por dentro. O casamento é uma sequoia que pode ser derrubada pelos besouros das pequenas coisas. A Bíblia ordena a não deixarmos o sol se por sobre nossa ira. Ou seja, não podemos adiar a solução de um problema. Não podemos ir para a cama com pendências. Não é prudente dormir e acordar com o coração empapuçado de mágoa. Isso gera raiz de amargura e envenena a alma.

Em segundo lugar, a família toda sofreu as inevitáveis consequências dos erros cometidos por Isaque e Rebeca. Porque Isaque e Rebeca se afastaram dos princípios de Deus, toda a família sofreu os reveses. Ninguém ficou ileso. Ninguém escapou de sofrer os esbarros do colapso dessa família que começou tão bem e agora estava caminhando para a falência. Vejamos o que aconteceu a cada membro dessa família que tinha tudo para ser um referencial de felicidade.

Primeiro, Isaque. O nome dele significa riso, mas nunca mais Isaque teve motivo para rir. Em certo sentido, ele perdeu os seus dois filhos num único dia. Um saiu de casa fugido. O outro saiu para vingar-se dos pais, punindo-se a si mesmo, casando-se com mulheres estrangeiras que foram amargura de espírito para eles (Gn 28.9).

Segundo, Esaú. Ele perdeu o respeito pela mãe. Ficou revoltado, amargo. Desgostou-se com seu lar. Passou a alimentar um ódio assassino por Jacó. Rebeca armou uma guerra dentro de sua própria casa. Seus filhos se tornaram inimigos mortais.

Terceiro, Jacó. Ele precisou fugir de casa. Sai como mentiroso, traidor, embusteiro. Sai com a consciência culpa protetora fracassada.

Quarto, Rebeca. Ela prometera a Jacó: “Refugia-te na casa de Labão, meu irmão, [...] e demora-te com ele alguns dias [...]; então mandarei trazer-te de lá” (Gn 27.42-45).

Vinte anos se passaram, e Jacó não voltou. Rebeca nunca mais viu seu filho. Ela morreu sem cumprir a promessa. Viveu amargamente sua velhice, ao ver o seu lar desmoronado pelas suas próprias mãos. Rebeca, na verdade, foi incapaz de prever todo o alcance de seus atos. O ódio despertado no coração de Esaú continuou por gerações futuras. Durante muitos séculos, os edomitas, descendentes de Esaú, seriam inimigos de Israel. Os edomitas jamais cessaram de odiar os israelitas. O livro do profeta Obadias descreve com cores fortes esse ódio dos edomitas a ponto de sentirem prazer com a desgraça de seus irmãos israelitas. Herodes, o Grande, o homem que quis matar Jesus em Belém, e seu filho, Herodes Antipas, o homem que ridicularizou Jesus durante seu julgamento, eram edomitas, descendentes de Esaú.

Toda a família sofreu as consequências da imprudência de um casal que começou bem, mas não soube resolver os assuntos familiares com sabedoria.

Isaque ficou só, envergonhado, sem sorriso, um gran¬de homem, um grande empresário, um homem rico, mas um marido descuidado e um pai parcial.

Rebeca perdeu seu filho predileto, perdeu o respeito de Esaú, traiu seu marido, não levou Deus a sério.

Jacó perdeu a casa, perdeu a mãe protetora, perdeu o amor do irmão e a consciência tranquila.

Esaú puniu a si mesmo para vingar-se dos pais (Gn 28.6-9). Esperou o pai morrer para vingar-se do irmão.

Como está sua família? Como está seu relacionamento conjugal? Há transparência? Há amor comprometido? Há fidelidade? Há brigas e mágoas dentro de seu lar? Como os seus filhos se relacionam? Eles são amigos? Vocês os tratam de forma justa e imparcial?

Como está a comunicação em seu lar? Como está a reverência pelas coisas de Deus? Nossos lares precisam urgentemente de um avivamento espiritual. Consagre hoje seu lar ao Senhor.

Consagre seus filhos ao Senhor. Deposite seu casamento no altar.

Vinte anos depois, Deus restaurou a amizade de Jacó e Esaú. Mas Rebeca não viu isso, e o pai estava muito velho para alegrar-se nessa restauração. Peça a Deus que faça você ver um milagre em sua família!

 Hernandes Dias Lopes - Livro: “Quatro homens, um destino”

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