A Poligamia dos Grandes Homens de Deus
“Vós, maridos, amai a vossa mulher (…). Cada um, em particular, ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite o marido” (Efésios 5:25 e 33).
A prática do repúdio e do “segundo casamento” já eram coisas muito comuns àquela época. Muitas pessoas já haviam repudiado seus cônjuges ou foram repudiadas por eles, adentrado em um novo relacionamento e recebido essa prática de vida como normal e absolutamente aceitável por DEUS. Na verdade, a dureza dos seus corações levou-as à profunda cegueira espiritual. Sobre isso, o apóstolo Paulo, anos mais tarde, escreveu para uma das igrejas: “pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Coríntios 4:2-4). Nem todos iriam compreender o conjunto doutrinário do Filho de DEUS. Assim como nem todos se salvariam. JESUS respondeu aos seus discípulos que “nem todos estariam aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado” (Mateus 19:11). Com isso, podemos concluir que, aquilo que é revelado a alguns, não alcançará o entendimento de outros muitos, pois há os eleitos, os salvos, como também os que vão se perder.
Hoje, consigo compreender a razão pela qual muitos, embora dentro dos templos cristãos, não conseguem compreender nem aceitar o ensino duro e radical de JESUS sobre casamento. É como se os conceitos cristãos sobre casamento indissolúvel e adultério para os divorciados que contraíram novas núpcias soassem esquisito aos seus ouvidos e não encontrassem abrigo em seus corações. Afinal, nossas leis, a nossa cultura e até mesmo as nossas igrejas, já tomaram como algo comum a destituição familiar, o recasamento e a prática eventual do adultério. Para isso, alguns dos nossos líderes evangélicos justificam esse “novo conceito de família” usando, por exemplo, a presença da poligamia do Antigo Testamento e o adultério do rei Davi. Usam da mesma estratégia que os fariseus usaram para JESUS: “Por que mandou, então, Moisés dar carta de repúdio e repudiar?” (Mateus 19:7).
A poligamia (segundo o dicionário Aurélio, união conjugal de um indivíduo com vários outros, simultaneamente) nunca esteve nos projetos de DEUS para o conceito de casamento e o estabelecimento de uma estrutura familiar. DEUS apenas permitiu a poligamia, como, de fato, permitiu também que tantas outras coisas ruins acontecessem no meio do Seu povo. A permissão de DEUS é bem diferente da Sua vontade. Ela (a permissão) existe como uma senha para a funcionalidade do mundo com os seus pecados, as suas tragédias, tudo de ruim que existe. O recasamento entre pessoas divorciadas e a poligamia fazem parte desse conjunto de coisas ruins permitidas pelo SENHOR. Mas a permissão não conduz ninguém ao plano de salvação. Só a busca pela vontade de DEUS conduz. A prática da poligamia, assim como todos os outros pecados, deixou consequências tristes na vida daqueles que praticaram. Por tudo o que a Bíblia diz sobre o destino dos que morrem na prática desses pecados especificamente, posso garantir que nenhum eleito de DEUS, que, em vida, foi polígamo ou adúltero, morreu dessa forma. Nem Abraão, nem Jacó, nem Davi, nem Salomão, morreram polígamos ou adúlteros. A morte de qualquer indivíduo, escravo de qualquer pecado, leva-o à morte espiritual, ao inferno.
DEUS permitiu a poligamia na vida dos Seus grandes homens, embora essa não fosse a Sua vontade. A permissão de DEUS de algo destrutível na vida de um dos Seus filhos é atribuída à natureza pecaminosa dos mesmos, ao desejo que eles têm de fazer o que desagrada a DEUS, ao coração propenso ao pecado. Porém, vimos, na Bíblia Sagrada, que os eleitos de DEUS são aperfeiçoados através das consequências das suas práticas pecaminosas. DEUS permite o mal para aperfeiçoá-los. Na verdade, na expressão maior da verdade, a vontade de DEUS para a humanidade era e é totalmente diferente dos caminhos que ela decidiu enveredar. Pela vontade de DEUS, os primeiros humanos não teriam pecado, desobedecido; nem Caim havia matado Abel; não haveria prostituição, dilúvio, fome, sofrimento, desertos; Moisés não teria permitido os judeus repudiarem as suas esposas por meio de uma lei; Abraão ter se deitado, ao mesmo tempo, com Sara e Agar; Jacó, com Léia e Raquel; Davi, com Mical, Abigail e, posteriormente, com Bate-Seba. Nem Salomão teria tido 700 esposas e 300 concubinas. Nada disso, DEUS queria que tivesse acontecido. Mas, pela desobediência, pela dureza do coração humano, ELE permitiu que todas essas coisas acontecessem, inclusive, entre pessoas que DEUS, mais tarde, salvaria e colocaria como personagens triunfantes de Sua glória. Uma das grandezas de DEUS, a que me deixa muito maravilhado, está no fato de DEUS ter trazido ao mundo seres completamente falhos, limitados, pecadores, de frutos tão tristes, mas que, por Seu projeto de salvação, ELE iria transformá-los, santificá-los, deixá-los na estatura de varão perfeito, até o dia de sua morte, em pessoas exemplares. Assim, DEUS fez com Davi.
Davi foi ungido rei por Samuel quando Saul ainda reinava sobre o povo de Israel. Ele era muito jovem, bonito, solteiro, exímio salmista e tocava harpa de maneira extraordinária. Quando a mente de Saul se perturbava, a música de Davi a acalmava. Davi também era muito valente e corajoso nas lutas que travava. O seu confronto com Golias até hoje está guardado na história da humanidade como um dos mais emblemáticos. Com uma simples pedra o gigante foi abatido. Saul, conhecedor das qualidades de Davi, ao saber que sua filha, Mical, apaixonara-se pelo futuro rei, teve receio de perder a sua posição. Daí, montou uma grande armadilha para Davi, desejando a morte dele: ofereceria a ele a sua filha como esposa, se, em troca disso, Davi, em guerra, entregasse a ele cem prepúcios de filisteus: “(…) Falai confidencialmente a Davi, dizendo: Eis que o rei tem afeição por ti, e todos os seus servos te amam; consente, pois, em ser genro do rei. Os servos de Saul falaram estas palavras a Davi, o qual respondeu: parece-vos pouco aos vossos olhos ser genro do rei, sendo eu homem pobre e desprezível? (…) Então disse Saul: assim direis a Davi: o rei não deseja dote algum, mas cem prepúcios de filisteus, para tomar vingança dos inimigos do rei. Porquanto Saul tentava fazer cair a Davi pelas mãos dos filisteus” (1 Samuel 18:22-23 e 25). Saul decidiu se aproveitar dessa paixão de Mical para se livrar de Davi. O que ele não imaginava era que, devido à sua inteligência e coragem, Davi conseguisse realizar aquilo que lhe fora exigido. Saul, assim, foi obrigado a cumprir a sua promessa de casar Davi com sua filha, Mical, que se tornaria, dessa forma, a sua primeira esposa.
Mas a chama do ódio de Saul por Davi só aumentara; e Davi teve de fugir da corte. Em face disso, Saul deu a sua filha, Mical, e esposa legítima de Davi, para ser mulher de outro homem, Palti, filho de Laís. Davi passou a perambular pelos desertos com alguns homens, tosquiando as ovelhas de Nabal, marido de Abigail, homem duro e maligno em todo o seu modo de viver; enquanto que Mical, sua legítima esposa, passou a viver em adultério, segundo a vontade do seu pai, Saul. Davi era suprido com a ajuda espontânea de agricultores e pastores. Em algum momento, ele soube que sua esposa, Mical, havia sido entregue por seu pai a outro homem. Até aqui, a Bíblia não relata que ninguém, nem Davi, nem mesmo Mical, buscou cumprir a vontade de DEUS para o casamento de ambos. Mical, por ser totalmente submissa a um pai, homem e rei perverso. Davi, homem de DEUS, que, desiludido, e talvez por não ver esperança alguma da restauração do seu casamento, assim não fez. Ao contrário: quando mandou pedir alimentos para Nabal e tendo resposta negativa do mesmo, decidiu matá-lo. Abigail, esposa de Nabal, mulher bonita e possuidora de visão política a longo prazo, constatando que uma tragédia estava prestes a acontecer com o seu marido, precipitou-se e foi entregar os alimentos a Davi. Dias depois, quando Nabal soube do ato da sua esposa, teve um derrame e morreu: “passados uns dez dias, feriu o Senhor a Nabal, e este morreu” (1 Samuel 25:38). Ao saber da morte de Nabal, Davi, sem perder tempo, mandou avisar a viúva que a queria tomar por mulher. Assim aconteceu. Davi, casado com Mical, filha de Saul, separada desta, ajuntou-se sexualmente com Abigail, recém-viúva de Nabal. Logo em seguida, “também tomou Davi a Ainoã de Jezreel, e ambas foram as suas mulheres” (1 Samuel 25:43). Embora os editores tenham atribuído o título dessa passagem bíblica de “Davi casa com Abigail”, o fato, em si, não se consolidou como um casamento lícito aos olhos de DEUS. Nesse momento, para DEUS, Davi tornou-se adúltero com Abigail e Ainoã, pois o mesmo permaneceria casado com Mical, filha de Saul, até que a mesma morresse. Ela, por sinal, tornou-se adúltera com Palti, o qual a Bíblia não nos informa se também era casado com outra mulher antes de sua relação ilícita com Mical.
Esse é mais um retrato da bagunça familiar que satanás promoveu e promove na vida de quem não busca a vontade de DEUS para as famílias e os casamentos. Adiante, já rei sobre Israel, no terraço do seu palácio, Davi cobiçou a Bate-Seba, esposa de um dos seus oficiais, Urias. Viu-a, cobiçou-a, usou de sua prerrogativa real até conseguir se deitar com ela. O que era para ser apenas mais uma de suas aventuras amorosas superficiais se desenvolveu para um drama com um fim mortal. Bate-Seba engravidou de Davi. O rei, então, como forma de se livrar de um problema maior (e já causando outro maior ainda), mandou assassinar Urias em um dos combates: “Ouvindo, pois, a mulher de Urias que seu marido era morto, ela o pranteou. Passado o luto, Davi mandou buscá-la e a trouxe para o palácio; tornou-se ela sua mulher e lhe deu à luz um filho. Porém isto que Davi fizera foi mau aos olhos do Senhor” (2 Samuel 11:26-27). Mas uma vez os editores da Bíblia marcam essa passagem erradamente com o título: “Davi casa com Bate-Seba”. Davi não podia tomar Bate-Seba por sua mulher, não porque a mesma era viúva, mas porque, lá trás, nas páginas ignoradas do seu passado, ele permanecia casado com Mical. DEUS não se esquecera desse casamento. A prova é que, um tempo antes, Davi investiu poderosamente contra a vida daquele que adulterava com a sua esposa, Mical: “Também enviou Davi mensageiros a Isbosete, filho de Saul, dizendo: dá-me de volta minha mulher Mical, que eu desposei por cem prepúcios de filisteus. Então, Isbosete mandou tirá-la a seu marido, a Paltiel, filho de Laís” (2 Samuel 3:14-15). Davi buscou a restauração da sua família por suas próprias forças, pelo seu poder real, de suas armas. Ele não orou, não buscou em DEUS a restauração. Esse é o erro de quem, sem condições alguma, tenta fazer algo que não pode nem deve. Há coisas que só DEUS pode fazer.
O interessante é que nem sempre quando aparece o termo “marido”, traduzido em algumas bíblias da Língua Portuguesa, refere-se a um casamento lícito aos olhos de DEUS, pois o CRIADOR DO CASAMENTO considera lícito apenas o primeiro marido e a primeira esposa até quando eles estiverem vivos. Certa vez, JESUS CRISTO, ao oferecer-SE como Água viva para a salvação a uma mulher samaritana, “disse-lhe Jesus: vai, chama teu marido e vem cá ao que lhe respondeu a mulher: não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: bem disseste, não tenho marido; porque já tivesse cinco maridos, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade” (João 4:16-18) (grifo meu). Como aquela mulher poderia beber da Água da salvação estando ela em adultério? E como JESUS consideraria verdadeiro um marido que ELE mesmo disse que não pertencia àquela mulher? O mesmo vale para quando afirma “já tivesse cinco maridos”. Certamente dos cinco que ela teve anteriormente, apenas o primeiro era válido para DEUS. Os demais, adúlteros. Paulo também, segundo algumas traduções bíblicas da Língua Portuguesa, usou o termo marido sem que o mesmo se referisse ao marido verdadeiro: “Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao marido (citação correta), enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido (citação correta), unir-se a outro marido (citação incorreta em algumas traduções. Em outras, aparece a palavra ‘homem’, o que é correto); porém, se morrer o marido (citação correta) está livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias” (Romanos 7:2-3).
O cargo de rei de Israel, no Antigo Testamento, e o cargo de ministro espiritual da igreja de JESUS, no Novo Testamento, são duas coisas completamente diferentes. DEUS não somente permitiu o adultério na vida de Davi, mas também na vida de muitos outros reis ímpios e perversos, que foram igualmente reis sobre o povo de Israel. Creio que Davi jamais seria escolhido líder espiritual de alguma igreja do Novo Testamento, devido à gravidade do seu caráter: a incontrolável propensão por mulheres. Ser líder e membro do corpo de CRISTO aqui na terra requer padrões e comportamentos muito mais altos. Por ter se deitado com a esposa de um dos seus oficiais, Davi recebeu dura pena da parte de DEUS: “Por que, pois, desprezastes a palavra do Senhor, fazendo o que era mau perante Ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará jamais a espada da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei as tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol” (2 Samuel 12:9-12).
Portanto, o texto afirma que DEUS eliminaria o erro da vida do seu servo, retirando todas as suas mulheres e entregando-as a outros homens, tudo diante dos seus olhos. É certo também que Davi sofreu bastante por todo o pecado que cometeu diante de DEUS. Mas ele se arrependeu. Arrependeu-se e foi justificado. DEUS o justificou e fez do coração dele um coração igual ao Seu coração. Repito o que disse bem no começo desse estudo: ninguém herdaria o reino de DEUS tendo morrido preso a qualquer pecado. Martinho Lutero, um dos responsáveis pela Reforma Protestante, defendeu com unhas e dentes a poligamia como algo normal e agradável a DEUS. Se ele também era um escolhido de DEUS, embora tenha tido uma defesa tão infeliz, em algum tempo da sua história foi liberto, aperfeiçoado e justiçado. A “Palavra de Vida” (como ele se referia à Bíblia Sagrada) lhe fora revelada, como fora, em algum tempo, revelada a Davi, a Salomão, a Abraão, a Paulo, a mim, a você, caro leitor, e a tantos quantos o SENHOR escolheu para, um dia, herdar a Sua morada eterna. Que DEUS nos abençoe! Ora, vem, Senhor JESUS!
FERNANDO CÉSAR
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