Falta de Tempo faz Família Deixar de ser Família Falta de Tempo Faz Família Deixar de Ser Família
Aparício Meirelles é servidor público e se esforça para desenvolver todas as suas atividades nas 24 horas do dia. Dorme tarde, acorda cedo, o telefone toca o tempo todo, reuniões dentro e fora do ambiente de trabalho, relatórios. Mas se engana quem pensa que na correria do dia-a-dia ele não tem tempo para sua família. “Hoje não corro mais atrás ‘do vento’. Trabalho muito, mas não abro mão de me dedicar a minha esposa e a meus filhos”, disse.
A rotina prova isso: Aparício e sua mulher, Gleiciene, são casados há 16 anos. Ambos trabalham e dão conta de toda a rotina. Pela manhã, ela leva os filhos Israel, 13 anos, e Isabel, 8, para a escola. Buscá-los é responsabilidade do pai e seguem para almoçar juntos, por volta de 13 horas. “Eu mesmo vou para o fogão. Gosto de cozinhar”, disse ele.
À noite, quando está livre de reuniões e outros compromissos, a família está junta. É hora de papear um pouco, conferir as atividades escolares dos filhos, ver um filme ou participar de alguma atividade na igreja.
No dia que entrevistamos Aparício e Gleiciene eles estavam especialmente felizes. Vieram de uma reunião de pais na escola e receberam muitos elogios pelo comportamento e desempenho dos filhos. Fruto da boa educação que recebem e do privilégio de serem tementes a Deus.
Os Meirelles estão na contramão da grande maioria da população brasileira. A dinâmica social tem feito a família deixar de ser família. Numa época competitiva como a que vivemos, a luta por um lugar no mercado de trabalho tem feito os pais até perderem a guarda dos filhos por abandono afetivo.
Foi o que revelou uma reportagem recente do jornal A Tribuna ao demonstrar que ocorrem 20 audiências por mês sobre esse assunto apenas na 3º Vara de Família de Vitória. Os indicadores sociais deixam explícito que a família tem deixado de exercer seu papel na sociedade moderna. O mapa da violência no Brasil divulgado pelo Ministério da Justiça no dia 24 de fevereiro, revelou que a taxa de homicídios entre os jovens de 15 a 24 anos cresceu de 30 para 52,9 por 100 mil habitantes entre 1980 e 2008.
Segundo o coordenador do mapa, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, a partir da década de 1980, ocorreu o “novo padrão de mortalidade juvenil”, com aumento nas mortes por homicídios, suicídios e acidentes de trânsito.
Se morrem mais jovens, também nascem mais crianças – só que frutos de um relacionamento sexual precoce. Os especialistas em adolescência alertam: 1,1 milhão de meninas de 15 a 19 anos que dão à luz a cada ano no Brasil, cerca de 25% já têm filho. Ao contrário do que se imagina, isso não ocorre apenas entre as classes mais pobres.
Em 2010, 362 bebês de mães adolescentes nasceram nos hospitais capixabas, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Apenas 19 dos 78 municípios não registram nascimentos de mães menores de 14 anos. Os municípios que registram maior número de nascimentos, na ordem, são: Serra, Cariacica, Vila Velha, Vitória.
Juventude “perdida” e sem orientação faz aumentar os indicadores sobre consumo de drogas no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de usuários só de crack está em torno de 1,2 milhão e a idade média para início do uso é 13 anos. Junto com o crack aumentam no Brasil o consumo de maconha, solvente, cocaína e o álcool entre pessoas cada vez mais jovens.
Falta de estrutura
E como vai a família? A cada quatro casamentos realizados no Brasil, um acaba em divórcio. Esse dado reflete uma realidade que tende a crescer a cada ano em todas as regiões o País. 70% dos pedidos de divórcio são feitos pelas mulheres.
Em 2008, por exemplo, os homens se divorciaram, em média, aos 43 anos. Já as mulheres tinham, em média, 40 anos. Nessa fase da vida, os adultos têm filhos pré ou já adolescentes, o que favorece o número de conflitos vividos pelos jovens por causa dos problemas decorrentes da separação dos pais.
Para abalar mais ainda as estruturas da família moderna, o homossexualismo ganha força no seio da sociedade. Segundo ONGs do segmento, a prática atinge mais de 10% da população. Cada vez mais as pessoas declaram-se homossexuais para suas famílias provocando rupturas e conflitos nunca antes imaginados entres os parentes.
Eis a família brasileira doente e que parece caminhar para o abismo. De acordo com o pastor Geraldo Lúcio Rodrigues, conferencista na área e líder da Igreja Metodista Wesleyana Central, Vila Velha, a família é a célula mais importante do tecido social. Se ela adoecer, todo o resto adoecerá. “A Igreja de Cristo precisa agir. Voltar seu olhar para a família e trabalhar dia e noite para que o projeto de Deus para a humanidade se fortaleça”.
Questão de valor
O Pr. Josué Gonçalves, em seu livro “104 erros que um casal não pode cometer”, Editora Mensagem para Todos, revela que “o tempo que investimos na família mostra a importância que damos a ela. Não basta ter qualidade, é preciso quantidade também que seja suficiente para suprir as necessidades de cada membro envolvido”.
Gastar tempo junto em família parece significar gastar dinheiro. Isso não passa de desculpa. A família pode jantar junto, fazer uma caminhada, desligar a TV e conversar, passear na praia ou na praça, assistir um filme.
O pastor Jackes dos Reis comenta que muitos adolescentes preferem qualquer atividade com amigos do que conversar com o pai. “Isso acontece porque não há este hábito dentro de casa. Os filhos crescem ser serem amigos dos pais”.
O excesso de compromissos profissionais e o pouco tempo para o convívio familiar é um desafio a ser vencido todos os dias a partir de atitudes simples, como uma conversa. “Há silêncios dolorosos e profundos em muitas famílias. O motivo é acomodação, desinteresse e reflexo da criação que os pais receberam”, lembrou o pastor Geraldo Rodrigues.
Os pais devem estar ao lado dos filhos em todos os momentos, mesmo aqueles que não passam de “coisas de criança”. Gravidez precoce, envolvimento com drogas e rebeldia têm nascido do silencio no lar.
Preocupados com essa realidade, o casal Luis Roberto e Marcella Ramos, se esforça para manter a unidade da família nos momentos mais simples. As filhas Camilla, 14 anos, e Júllia, 8, têm pais presentes que não abrem mão de serem participativos. “São idades diferentes, cada uma requer atenção específica, mas me esforço para dar a elas o que recebi de meus pais. Ter tempo para os filhos é importante para o futuro deles e também para o nosso”.
Encontrar equilíbrio entre suas atividades profissionais e sociais é o desafio do casal Fábio Alvarenga Simões e Elaine. Ele acha que o tempo para a pequena Rebeca poderia ser melhor. “Mas apesar da correria diária, sempre tentamos fazer as refeições à noite juntos, passear, assim podemos conversar um pouco cultivando um relacionamento saudável”.
O casal tem consciência de que falta de tempo com os filhos podem ter resultados devastadores no comportamento deles. Rebeldia, intolerância, falta de limites, problemas no aprendizado são apenas alguns. “Jamais deveremos deixar de dar carinho, amor, atenção, corrigir na hora certa e, o principal, ensinar no caminho do Senhor”, completou Fábio.
Ativismo até na igreja
Parece incrível, mas há igrejas que prejudicam o convívio familiar. Isso porque lotam a semana com atividades e acabam por tirar da família o tempo junto. O pastor Jackes Reis alerta sobre esse perigo. “O ativismo, seja secular ou relacionado à igreja, impede a percepção dos verdadeiros projetos de Deus para a família. Sabedoria é um quesito fundamental para tratar a questão do tempo”.
Na igreja que lidera, a Missão Plenitude, em Vila Velha, o pastor Jackes tem o tema família como prioridade. “Não apenas consideramos o tempo que a família precisa como ofertamos atividades para elas. A igreja não tem apenas que orientar sobre o tempo, mas também criar as oportunidades para a família se alegrar. Promovemos saídas para pizzarias, passeios variados, almoços temáticos e os resultados têm sido maravilhosos em nosso meio”.
A mesma visão tem o pastor Geraldo Lucio Rodrigues. “Não permitimos acúmulo de cargos na igreja. Há pessoas nas igrejas evangélicas que absorvem quatro ou cinco cargos ao mesmo tempo e estão com a vida familiar atribulada. A igreja tem que investir em formação de líderes em todas as áreas para que haja melhor distribuição de tarefas entre a membrezia”.
Desafios
Falar de família hoje é falar de mudança, de novas configurações, é falar de novas relações. A igreja precisa estar preparada para dar respostas para essa realidade e ajudar as famílias a atravessarem a era moderna mantendo os valores estabelecidos por Deus.
É plano de Deus que o lar seja um lugar onde o Espírito Santo tenha a primazia e que todos os membros da família trabalhem pela felicidade um do outro, harmoniosamente, agradando seu Criador e vivendo melhor. Essa realidade é descrita no salmo 128.
De acordo com o pastor Geraldo Rodrigues, os pastores precisam se atualizar sobre os temas, promover discipulado constante para tratar a família. “Não se fala de família na igreja só no mês de maio! Todos os dias vemos o inimigo se levantar contra as famílias e o que temos feito?”
Assuntos como novo casamento, divórcio, criação de filhos, finanças, pornografia, internet, homossexualismo, uso de drogas, sexualidade do casal e dos jovens, tudo isso compõe uma agenda de assuntos relacionados. “A igreja deve se atualizar e orientar dentro da Palavra. Não há assunto do qual a Bíblia não traga orientação”.
Hoje o seio familiar sofre com a influência dos novos modelos da sociedade brasileira. Tudo pode! E como imunizar a família? “Restabelecendo o altar à Deus dentro de cada lar. Só com os joelhos dobrados, orientação na Palavra vamos ser uma família para honra e glória de Deus”, conclui o pastor Geraldo Rodrigues.
Revista Comunhão
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