terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Arte de Permanecer Casado

É provável que tenhamos nos aproximado do casamento com uma idéia limitada, sem saber bem em que negócio estávamos nos metendo.

Talvez você tenha cogitado, como muitos de nós, algumas dessas razões para levar adiante o projeto do casamento:
Preciso me casar, quero ficar livre dos meus pais. Quero ter a minha própria vida!
Sou jovem e saudável, meus hormônios estão à ‘flor da pele’, se não me casar, ...!
Preciso ter alguém que cuide de mim, que me ame, essa vida solitária é sem graça!..
Somos práticos, e procuramos razões que justifiquem nossas decisões. Não importam quais tenham sido os motivos iniciais que o levaram a assumir esse compromisso tão sério, quero lhe dizer que você entrou no melhor empreendimento da sua vida. Mesmo que não tenha vislumbrado plenamente essa idéia desde o começo, o casamento na vida do ser humano é a maior de todas as oportunidades de ser feliz.

Muitos, vendo alguns resultados práticos da vida a dois, reconhecem:

* Só depois que me casei consegui organizar minhas finanças.

* Vivendo a dois, a gente evita muitos exageros.

* No casamento um cuida do outro. E assim, a gente é mais feliz.

Porém, na prática, talvez você hoje esteja meio desanimado com os problemas decorrentes da vida conjugal... parece que são tantos conflitos... mil disputas, que nos “obrigam” a lançar mão de estratégias de guerra para “sobrevivermos”.
Mas o casamento é muito mais do que isso! Quero convidá-lo a contemplar o que acontece nos bastidores dessas cenas que, nem sempre lhe trazem tanta satisfação, alegria e contentamento, como você pretendia. É que, por trás das “instabilidades do mercado”, existe uma grande possibilidade de desfrutar o que há de melhor na vida. O mercado de ações diz que, quanto mais arriscado o negócio, mais lucrativo ele pode ser.

Então, vamos analisar mais profundamente nosso “negócio”?!

Propósito original do casamento

Deus existe em comunidade; Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo; e é desse círculo perfeito que procedem o poder Criador, a harmonia plena, o amor verdadeiro, o livre arbítrio, o companheirismo...
Ao estabelecer a família no contexto do primeiro casal, Deus formava um núcleo para a preservação e cultivo dessas características, o ambiente ideal para o exercício dos atributos da comunidade celestial: amor, harmonia, companheirismo, codependência. ... Vivendo dessa maneira, o homem fortaleceria a imagem de Deus, à qual fora criado, desenvolvendo-se e ampliando suas potencialidades. A natureza se manteria cercada da proteção e cuidados divinos, preservada dos possíveis desgastes do tempo. Enquanto a família humana estivesse em comunhão com o Altíssimo, o globo terrestre estava garantido contra os efeitos da lei da entropia, reinantes hoje.

Como tudo isso acabou?

A família estabelecida no Éden seria, portanto, o núcleo mais nobre e sagrado da presença de Deus, irradiando o amor divino.
Esta verdade fica mais evidente, ao se perceber que, quando se afastaram um do outro, Adão e Eva tornaram-se vulneráveis. Tendo caído em pecado, toda a natureza sofreu os impactos dessa perda: espinhos e cardos se formaram, os animais tornaram-se hostis uns aos outros. Lamentavelmente com o afastamento de Deus e do Seu propósito original para a família, toda a humanidade foi afetada. Afirma-se que “no murchar da flor e no cair da folha, os primeiros sinais da decadência, Adão e sua companheira choraram mais profundamente do que os homens hoje fazem pelos seus mortos.”

Estaria tudo perdido definitivamente?

As promessas de Deus foram apresentadas imediatamente. Após a queda, o homem despojado das características divinas estava agora subordinado ao mal, sendo então governado pelos impulsos carnais que brotavam de dentro de si. Deus então se pronuncia: ”Porei inimizade entre ti (a serpente) e a mulher (família humana)” (Genesis 3:15).
É Deus quem vem em socorro do homem. Intervém na seqüência natural dos fatos “certamente morrerás” (Genesis 2:17) e oferece-lhe a oportunidade de voltar ao plano original. É Deus criando mecanismos que oportunizam à família caída o restabelecimento dos valores divinos no coração humano.
Assim como originalmente a comunhão de nossos primeiros pais com Deus, quando ainda no Éden, era o meio pelo qual fluíam as bênçãos divinas para todas as criaturas e a criação, a união conjugal e familiar, hoje, é a única forma de fazer convergir para o Planeta Terra os raios do Sol da Justiça que expulsam do coração humano as trevas do mal.
É no aprendizado da abnegação, do desprendimento, da paciência oportunizados pelo relacionamento conjugal e familiar, que as virtudes divinas desabrocharão em nossa vida. Unicamente em um convívio tão próximo e íntimo como o da família, onde fica evidente nossa vulnerabilidade e claramente expostas nossas fragilidades, é que podemos ser edificados por Deus e restaurados a Sua imagem e semelhança.
O casamento é, portanto, o meio eficaz usado por Deus, a fim de despertar o homem para a necessidade de ter em si os atributos do céu. É na administração das necessidades da família, na busca do bem-estar do outro, no respeito pela sua personalidade, na resolução dos conflitos,... que vemos falidas as habilidades humanas, que vemos fracassar nossos esforços de exercer domínio próprio, de respeitar o outro, de amar verdadeiramente... É na família que nos chocamos com a maldade de nossos pensamentos e a crueldade e obstinação de nossos atos. Nosso eu é dominador, controlador da vontade do outro, impostor de nosso querer...

E só então, ante a frustração e a infelicidade, ante a sensação de se estar só é que podemos despertar. É no contexto de um lar fracassado que reconhecemos a necessidade de mudanças radicais em nosso ser, uma transformação tal onde o altruísmo faça morrer nosso próprio “eu”, sacrifício para o qual não temos forças, mas de que precisamos a fim de permanecermos casados.
 Só quando nos sentirmos fracassados em nossas tentativas de melhora, quando nos percebemos perdidos em nossos esforços é que estaremos abertos para reconhecer a disponibilidade desse Pai que ama Seus filhos. Deus arregimenta os exércitos dos céus para socorrer àqueles que clamam por Seu auxílio.
Agora salta diante de nossos olhos que, além de a união conjugal oferecer a segurança de companhia, de não se estar só nas caladas da noite, na velhice, de ter alguém que cuide, que seja solidário, expectativas muitas vezes frustradas... a vida a dois é o meio usado por Deus para levar-nos a identificar que os artifícios humanos usados com bom resultado em relacionamentos profissionais: domínio, tirar proveito da autoridade, persuasão, habilidades de argumentação, que aparentemente funcionam bem no trabalho e na vida social, são completamente ineficientes para sustentar um relacionamento profundo e verdadeiro como é o casamento.

O que nos resta então? O amor existe? Como permanecer casado?

A restauração

Os dividendos de alegria, compreensão, contentamento, solidariedade e companheirismo que nos levaram diante do altar na busca do amor verdadeiro, podem tornar-se realidade em nossa vida unicamente quando, esgotados em nossos esforços, decidimos buscar o amor em sua fonte genuína – Deus.
É na busca de um relacionamento pessoal e profundo com Deus (I João 4:7 e 8), deixando morrer nosso insaciável “eu” (Mateus 16:24), é que estaremos nascendo para as características divinas em nosso ser.
Só amor pode gerar amor. Só Deus presente em nosso coração, pode fazer brotar dentro de nós o amor, nos seus mais variados matizes: alegria, paz, paciência amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5:22 e 23 NVI). Só a comunhão íntima com o Criador, poderá tornar a nossa vida e nosso relacionamento conjugal um santuário de santificação (João 4:13 e 14), abrindo-nos, assim, as portas do céu. A eternidade se descortinará a todo aquele que, ante a impotência dos esforços humanos para restaurar a família, busca nAquele que a instituiu, os segredos da arte de permanecer casado.

Jaime Wolff
Psicólogo e Terapeuta Familiar

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