terça-feira, 17 de maio de 2011

Famílias Sobre os Escombros

As cenas são cruéis. Chile, Haiti, Angra dos Reis, São Paulo, Rio de Janeiro, Estados Unidos, Europa, Ásia… Sobreviventes sob os escombros após vários dias sem água e comida. Outras imagens chocantes mostram os efeitos da chuva, do frio, do calor e de violências de todo o tipo. Quem analisa os fatos com a perspectiva bíblica sabe tratar-se do cumprimento das profecias da Palavra de Deus.
Mas, que ligação isso pode ter com relacionamentos e vida familiar?
Se me permitem fazer um paralelo, a família, como instituição, tem enfrentado terremotos, vendavais e ataques terroristas e muita gente está vivendo sob escombros relacionais, na complexidade tumultuada da vida familiar.
Desde o Éden, o primeiro casal foi vítima das artimanhas do inimigo. A instituição familiar é o alvo do diabo, através de ataques diretos e, principalmente, pela pressão exercida através dos valores distorcidos vividos pela sociedade, onde o dinheiro, o sexo e o poder são o tripé que sustenta o sistema mundano.
É um dilema ser um cidadão dos céus e viver diariamente com a cultura de um povo, que despreza os valores do Reino de Deus. O desafio é não ser seduzido pelo brilho e o fascínio dos banquetes de sensualidade das fontes poluídas de um pensamento secular, que divorciou-se dos absolutos da Palavra de Deus.
O perigo é quando nos amoldamos a uma cultura maligna, sem perceber que estamos flertando com o conteúdo proposto pela maior parte da mídia, que divulga, avaliza e incentiva o comportamento pecaminoso, inclusive nas nossas famílias. Isso acontece de forma lenta, gradual, sutil, persistente e tremendamente dominadora. Nada mais sedutor que aquilo que nos agrada aos olhos e mexe com os nossos desejos mais íntimos.
Quem estabelece relacionamentos sob essas influências vive em área de risco de tremores e desabamentos. E, exatamente como acontece com os cidadãos que vivem em locais perigosos, que oferecem resistência em aceitar as mudanças propostas pela Defesa Civil, o paralelo espiritual é verdadeiro. Apesar de ver a família dividida e desestruturada, muitos teimam em viver a penosa agonia da iminente destruição.
Não é por acaso que Deus afirma que “a terra se contaminou” (Lv 18.25) e determinou ao povo de Israel que não assumisse o jeito de viver dos povos ao seu redor (Lv 18.25), nem absorvesse as práticas dos seus contemporâneos. “Portanto, guardareis a obrigação que tendes para comigo, não praticando nenhum dos costumes abomináveis que se praticaram antes de vós, e não vos contaminareis com eles. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.” (Lv 18.30).
Infelizmente, o que se vê hoje, inclusive nas igrejas, são jovens e adolescentes que estão deixando de namorar para “ficar”. Isso significa dizer que estão sendo apanhados pela lascívia e erotização que parece não ter limites. Há ainda aqueles, de todas as idades, que passam horas assistindo a programas que enaltecem o adultério, o homossexualismo, o ocultismo, a promiscuidade e todo o tipo de falcatrua. Não há como ficar exposto a tanto lixo e não ficar enlameado. São bases de areia que, cedo ou tarde, não subsistirão às crises e temporais que atingem a todos os seres humanos. Existem pessoas que foram seduzidas pelo comodismo, pela frieza e indiferença e se acostumaram, se integraram ao cotidiano do grupo. Se deixam levar pela falsa idéia de que nada faz mal, tá tudo certo, o tempo conserta tudo.
Outros trocam de parceiro por motivos banais e se cercam de argumentos filosóficos que amparem seu comportamento repreensível. Muitas crianças inocentes estão sofrendo com a destruição dos seus lares. Pessoas estão caindo na tentação da infidelidade conjugal, deixando um rastro de corações partidos, esperanças e vidas despedaçadas.
Será possível manter bons relacionamentos mesmo sob os escombros das famílias desajustadas e das nossas próprias ambiguidades?
O profeta Daniel foi desafiado a viver em uma cultura sedutora, sem ser seduzido por ela (Dn 1). É a perspectiva cristã de ser sal no meio da podridão moral: Viver uma vida genuinamente revolucionária, como foi a de Jesus. Certa vez perguntei a um político se ele achava que se os policiais ganhassem mais, a corrupção diminuiria. A resposta foi surpreendente: “Não! Corrupção tem a ver com caráter. Não importa o quanto se ganhe, se não for uma pessoa de caráter será corrupta do mesmo jeito.” Esse pensamento está de acordo com os ensinamentos de Jesus: “Quem é fiel no pouco é fiel no muito” (Lc 16.10). A oferta pode ser tentadora, mas o nosso compromisso deve falar mais alto. Nosso posicionamento diante do vendaval contra a família será fruto da firmeza do nossa decisão. Daniel determinou em seu coração não contaminar-se (Dn 1.8).
É momento de avaliar a condição dos fundamentos da própria casa. É preciso ficar atento à postura de pensar que está tudo bem ou que não precisamos de ajuda, ou imaginar que a nossa família está imune ao perigo. Quem enfrenta situações de risco não pode ficar inerte, nem “jogar a toalha”, como se a vida relacional já tivesse acabado debaixo dos escombros. É preciso dar sinal de vida, pedir ajuda, gritar. Não é preciso simular uma situação de bonança, quando há temporal. Pode ser que dê para sobreviver por um tempo, mas o oxigênio pode estar acabando, a vitalidade pode estar no fim. É preciso que o socorro seja feito com urgência.
A boa notícia é que a providência está chegando. Deus afirma “Clama a mim e responder-te-ei…” (Jr 33.3). Nos erros e acertos Jesus está conosco. Somos encontrados por Deus em nossos relacionamentos. Nas situações mais improváveis é que o milagre surgirá. Por mais que a família esteja desajustada, que haja sérias falhas de caráter, Deus continua acreditando e investindo em nós, como fez com Jacó e a família da promessa, que diante de mentiras, traições, brigas e mundanismo, teve a oportunidade de experimentar a restauração divina (Gn 32.28).
As histórias da Bíblia falam a nós, em nosso tempo. O mesmo Deus que prometeu a Abraão abençoar “todas as famílias da terra” (Gn 12.3), é um Deus que se associa com pessoas muito imperfeitas. Essa revelação é uma chama de esperança a quem tinha sido dado como morto. Os traços do caráter de Jacó, estão psicologicamente muito presentes em nós. Apresentamos as mesmas fraquezas, anseios, ambiguidades, necessidades, desejos e, ao mesmo tempo, o potencial para uma busca apaixonada pela sobrevivência, pela vitória, pela benção, pela solução, pela resposta, pelo resgate. É nessa busca, nessa fé, que vamos experimentar as soluções do Criador para a recriação do que parecia sem chance alguma.
Que isso sirva de aviso ou chamada de atenção aos pastores e líderes da urgência de buscar àqueles que estão minguando à nossa volta – debaixo de escombros relacionais.

                                           Pr. Jairo Ribeiro

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